sábado, 18 de fevereiro de 2012

Meryl Streep, a Dama de Ferro








Meryl Streep como Margareth Thatcher e Jim Broadbent como Dennis Thatcher em ‘A dama de ferro’
Foto: Divulgação / AP Photo




Meryl Streep como Margareth Thatcher e Jim Broadbent como Dennis Thatcher em ‘A dama de ferro’DIVULGAÇÃO / AP PHOTO
RIO - O filme “A Dama de Ferro”, que chega nesta sexta-feira ao Brasil, tem deixado por onde passa pelo menos duas certezas entre a crítica e uma dúvida entre o público. As certezas: (1) com sua interpretação de Margaret Thatcher, Meryl Streep é favoritíssima a abocanhar o Oscar de melhor atriz, prêmio ao qual concorre pela 17ª vez; (2) para além de Meryl, o filme é “monótono”, de “roteiro medíocre, “pouco revelador” — nas palavras usadas pela críticos — ou, simplesmente, chato. A dúvida: em que medida a água fria despejada sobre o filme também não representa, por outro lado, mais lenha na fogueira na relação Inglaterra-Argentina? Nada a ver com cinema; neste caso, o cenário é o da vida real: 2012 marca o 30º aniversário da Guerra das Malvinas, que opôs os dois países e teve a então primeira-ministra britânica como um de seus personagens centrais.
“Meu problema com o filme não tem a ver com a questão política, e sim com a forma como ela (Margaret Thatcher) é mostrada. De início, me incomodou. Agora estou furioso”, escreveu um crítico do jornal “The Telegraph”, que, como a maioria da imprensa inglesa, focou as queixas nos minutos iniciais do filme, quando Meryl Streep surge no estado em que se encontra a hoje ex-Dama de Ferro, aos 86 anos: sofrendo do Mal de Alzheimer. “A primeira-ministra britânica mais importante do pós-Guerra foi exibida como uma senhora de meia-idade perdida por causa de sua vulnerabilidade comovente, em vez de ter sido mostrada através das conquistas maduras de sua pompa (...). Nada se analisa nem se examina em profundidade”, escreveu o sério “The Guardian”, ressalvando, porém, o “estudo do processo de envelhecimento” e a atuação “sutil e cheia de detalhes” da protagonista. À sua maneira irreverente, o popular “The Sun” fez coro: “sem a atuação de Streep, seria um obsoleto filme para a TV.”
Se na Grã-Bretanha as críticas poderiam conter um mal disfarçado orgulho nacional ferido, na Argentina elas adquiriram um tempero político muitas vezes explícito. Os jornais do país se ativeram a uma cena mais adiante da película, quando Thatcher — rejeitando os apelos do embaixador norte-americano para que resolvesse diplomaticamente a disputa com a Argentina pelo controle das Ilhas Malvinas (ou Ilhas Falklands, como as chamam os ingleses), no Atlântico Sul —, ordena uma ofensiva militar para afundar o navio argentino Belgrano. No filme, a líder britânica sugere que, como mulher, teve de “ir à guerra a cada dia” para manter sua permanência no poder. Na vida real, mais de 300 marinheiros morreram somente naquele dia, e o país atacado alega, até hoje, que a embarcação estava fora da zona de guerra. A rendição argentina, em 14 de junho de 1982, garantiu a Thatcher uma reeleição como primeira-ministra, apesar da recessão e do desemprego por que a Inglaterra passava.
“Reduzir a guerra a uma questão de feminismo é um absurdo, para dizer o mínimo”, escancarou o “Clarín”. Para o jornal argentino, o mérito do filme reside justamente na possibilidade de ele despertar o interesse da opinião pública daquele país para a história da Guerra das Malvinas. “O filme não vai agradar a feministas, admiradores, nem a adversários da Dama de Ferro, e, para a Argentina, acrescenta outro fator de decepção”, escreveu o “Tiempo Argentino”. Já o “La Nación” recomendou: “Personagem tão controverso para seus próprios cidadãos, os cidadãos do mundo e especialmente para os argentinos, Thatcher merece um filme melhor.”
A obra estreou em Buenos Aires na primeira semana de fevereiro, coincidindo com a chegada às Ilhas Malvinas do príncipe William, para um treinamento como piloto da Força Aérea Real. Além disso, o governo britânico, que busca petróleo nas águas do arquipélago, anunciou o envio de um moderno navio de guerra para patrulhar a região. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, chamou as ações de atos de “militarização”, e prometeu levar a questão ao comitê de descolonização da ONU. Kirchner também determinou a reabertura de uma investigação sobre a guerra, para apurar violações dos direitos humanos que teriam sido cometidas por soldados britânicos.
Em tempo: a cerimônia do Oscar acontece, na paz de Hollywood, no dia 26 de fevereiro.

 

Um comentário:

Clara disse...

Só se salva mesmo a atuação da Meryl Streep. Achei o filme superficial, maniqueísta e chato.