Há exatos três anos, Eike Batista, então o homem mais rico do Brasil e o oitavo do mundo, anunciou em cerimônia pública que doaria R$ 20 milhões por ano para o governo do Rio construir e equipar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Seriam, até 2014, R$ 100 milhões para “um projeto fantástico, modelo para o Brasil e para o mundo”.
Logo depois, no Natal de 2010, Eike daria uma entrevista ao jornal britânico The Guardian em que reafirmaria esse compromisso, classificando-o como fundamental para alcançar um de seus dois principais objetivos: transformar o Rio em um “lugar inacreditável” na próxima década.
Segundo definiu ao Guardian, o Rio X seria ”uma mistura de Califórnia, Nova York e Houston, combinando praias estonteantes com importância financeira e arquitetura ultramoderna.”
Para a capital, ele prometia, além da pacificação das favelas, a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, a recuperação da Marina da Glória e a transformação do Hotel Glória em suntuoso cinco estrelas, comparável aos de Dubai.
O outro objetivo primordial do bilionário, de acordo com o Guardian, era alcançar a primeira posição na lista da Forbes. Para isso, a holding EBX estimava investir R$ 34 bilhões no Estado na construção de portos, indústrias e prospecção de petróleo.
Entre 2010 e 2012, o grupo financiou a compra de uma centena de carros e motos para UPPs.Também construiu as sedes da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, e da Fazendinha e da Nova Brasília, no Complexo do Alemão.
Há um ano, durante a inauguração no Alemão, os jornais registraram que, mesmo ausente, Eike Batista recebeu mais elogios e agradecimentos do governador Sérgio Cabral (PMDB) do que os chefes militares responsáveis pela ocupação do Complexo durante um ano e meio.
Naquele momento, Cabral não parecia ver qualquer problema na onipresença de Eike nas esferas pública e privada do Rio. Até o Maracanã corria o risco de ganhar um X se, nos últimos dois meses, a popularidade de Cabral e o valor das ações de Eike na Bolsa não tivessem despencado juntos, meteoricamente.
Fora do rol dos bilionários, com uma fortuna agora estimada em R$ 400 milhões, o empresário rescindiu na semana passada, em silêncio, o convênio milionário para as UPPs.
Infelizmente suspenso, o mega projeto Rio X começa a se desintegrar por uma de suas melhores faces – a filantropia de grande alcance social. A Secretaria de Segurança disse que irá organizar seu orçamento para assumir, com ajuda de outros parceiros, os custos.
Enquanto isso, a UPP da Rocinha – e outras – estão provisoriamente instaladas em contêineres – como aquele para onde Amarildo foi levado antes de desaparecer.
Mara Bergamaschi é jornalista e escritora. Foi repórter de política do Estadão e da Folha em Brasília. Hoje trabalha no Rio, onde publicou pela 7Letras “Acabamento” (contos,2009) e “O Primeiro Dia da Segunda Morte” (romance,2012). É co-autora de “Brasília aos 50 anos, que cidade é essa?” (ensaios,Tema Editorial,2010). Escreve aqui às quintas-feiras.
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