- Às portas da melhor idade, americana lança livro sobre suas aventuras para arrumar um namorado no Rio, onde mora
RIO - Longe de ser uma saga digna de heroínas hollywoodianas ou um relato com dicas infalíveis de como fisgar aquele homem tudo-de-bom, que anda tão escasso no mercado... Na melhor linha “pronto, falei”, a jornalista e escritora Julia Michaels, uma americana de Boston que vive no Rio há 18 anos, decidiu botar no papel suas aventuras, desventuras e algumas roubadas em busca de um namorado, após o rompimento de seu casamento (com um paulistano), que durou 25 anos e deu ao casal três filhos.
“Solteira no Rio de Janeiro — As aventuras de uma gringa cinquentona na Cidade Maravilhosa” é o resultado desse apanhado de episódios romântico-sexuais, contados de forma bem-humorada, que Julia vivenciou entre 2007 (quando retornou à solteirice) e 2011. As memórias estavam engavetadas no apartamento onde mora, em Ipanema, até serem apresentadas à editora carioca Língua Geral, no ano passado, que adorou o tema e o transformou em livro, recém-lançado pelo selo AlfaLivros.
Depilação, a arma secreta
A protagonista, hoje com 59 anos, reuniu, sem pudores, um punhado de histórias, muitas delas resultado da falta de prática na arte da paquera. A solteira do pedaço teve os momentos de querer curtir a vida como se não houvesse amanhã nos períodos em que os filhos passavam férias com o pai — seja se esbaldando numa pista de boate com amigos ou atrás de algum bloco de carnaval. Em outra fase, para impressionar um candidato a namorado, Julia conta ter chegado a experimentar a famosa depilação à moda brasileira. E nessa busca pelo novo, recebeu conselhos de amigas cariocas, entre eles o de que buscasse o amante ideal na França. Até tentou, mas não deu certo.
As investidas amorosas tiveram como foco homens mais novos, não tão jovens, estrangeiros e, claro, cariocas. E qual a diferença entre esta última categoria de homens e os paqueras gringos como você, Julia?
— Não namorei o suficiente para saber a diferença entre cariocas e estrangeiros. Mas sei que, qualquer que seja a nacionalidade, a maioria dos homens não sabe o que quer — diz, aos risos.
Na verdade, Ms. Michaels engana bem à primeira vista. Quase sem sotaque, ela pode passar por uma carioca, até porque incorporou hábitos comuns entre as nativas, como andar pela rua com roupa de ginástica (sem ter ido à academia), sair de casa de cabelo molhado, adorar água de coco, caminhar na praia, e só não vive de Havaianas por causa de um problema no pé. Costumes impensáveis em sua terra natal.
— Um amigo americano veio ao Rio fazer uma palestra e fui prestigiá-lo. Cheguei lá com roupa de ginástica. Quando acabou o evento, ele me perguntou: veio direto da academia? Quando eu disse que não, ele fez cara de que não entendeu — relembra Júlia, admitindo que não pensa em deixar o Rio. — Não me adaptaria mais a morar nos Estados Unidos...
O Rio, aliás, é coprotagonista do livro. A autora comenta com frequência suas impressões sobre as transformações político-sociais que ocorreram na cidade enquanto vivia suas histórias amorosas.
Mas voltando ao tema central do livro, como os três filhos (dois moram nos EUA), nascidos no Brasil, encararam a exposição da mãe ao contar episódios tão íntimos? E o ex-marido, o que achou?
— Meus filhos me deram todo o apoio quando decidi publicar o livro, mas nenhum deles quis ler — conta Julia, que sobre o ex-marido preferiu não comentar.
Tem spoiler, não leia
Se o livro caiu nas graças de uma editora carioca, já com uma americana Julia tomou um balde de água fria:
— A editora me disse que não estava interessada em publicar o livro porque ele não tinha final feliz.
Sim, a obra termina com a protagonista sem namorado. Situação que se repete no momento.
— Mas estou feliz! — garante Julia, que vai lançar um livro sobre o Arpoador.
Um comentário:
Encontrar um namorado no Rio de Janeiro não é difícil.
A moça deve ser muito exigente.
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