domingo, 11 de agosto de 2013

A agonia do trem-bala, por Antonio Dias Leite



Antonio Dias Leite
Segundo se noticia, a presidente Dilma Rousseff reuniu quatro ministros para discutir mais um adiamento do prazo de entrega de propostas para a licitação do TAV (trem-bala) marcada para 16 de agosto.
O que se pergunta é por que não cancelar de uma vez essa ideia estapafúrdia que se arrasta desde 2007.
O TAV Rio-Campinas é, por si só, um grande empreendimento que, como tal, requer estudo de viabilidade, o que foi feito por consorcio anglo-brasileiro e, a seguir, anteprojeto de engenharia e projeto executivo, que ainda não foram feitos.
O orçamento preliminar, repetidamente revisto, é, ainda, insuficiente para análise da conveniência do empreendimento, em função do alto risco que envolve.


A linha férrea passa por terrenos montanhosos e atravessa 32 municípios, na sua maioria densamente povoados. Túneis e viadutos são parte relevante no orçamento vigente, e os gastos com desapropriações e correção de danos ao meio ambiente são imprevisíveis, uma vez que dependem de inevitáveis disputas judiciais.
O prazo de execução de tal obra é, por conseguinte, incerto, o mesmo ocorrendo com a sua rentabilidade e as tarifas necessárias.
Tratando-se de empreendimento de grande dimensão para o cenário brasileiro, há que analisá-lo como parte do sistema nacional de transportes de passageiros bem como pela sua repercussão na economia do país.
As recentes manifestações populares colocaram no centro das reivindicações a melhoria da mobilidade urbana. Em artigo anterior (05/07) procurei comparar os benefícios de um conjunto de projetos de mobilidade urbana com os que seriam propiciados pelo TAV.
O pressuposto era que os recursos requeridos pelo TAV fossem aritmeticamente da mesma ordem de grandeza do que aqueles necessários à duplicação das redes de metrô nos principais centros metropolitanos.
Enquanto o TAV atenderia a 20 mil usuários por dia, os metrôs atuais, que servem a 4,5 milhões, poderiam vir a duplicar esse número. Há quem recuse esse raciocínio, do ponto de vista dos dispêndios, com a alegação de que a maioria dos investimentos no TAV viria de empresas do exterior, sendo especificamente a ele destinados. Na realidade essa parcela vem decrescendo ao longo do processo e o governo vai anunciando participação crescente nos riscos do projeto.
O governo federal, na coordenação ou na própria execução de investimentos em infraestrutura, nos últimos anos, tem demonstrado inequívoca incompetência na gestão de recursos e na condução das obras que não se concluem e, por consequência, permanecem inúteis.
Seria temerário envolver-se e dar inicio a mais um projeto, neste caso de alta tecnologia, que nos conduziria a uma obra de futuro incerto. Seria ainda um contrassenso para um governo populista, quanto ao alvo dos benefícios, e na atual conjuntura econômica nacional.

Antonio Dias Leite é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Um comentário:

Alberto disse...

O professor Dias Leite não só conhece profundamente o assunto como também se preocupa com a construção de um Brasil melhor.
Estas características fazem com que o governo não concorde com suas sugestões.