sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Marta Suplicy: ‘Eles não entenderam moda como cultura’


  • Ministra ignora decisão da comissão que avalia projetos e autoriza três estilistas a captarem R$ 7,4 milhões para desfiles em São Paulo, Paris e Nova York

A ministra da Cultura, Marta Suplicy Foto: André Coelho / Agência O Globo
A ministra da Cultura, Marta Suplicy André Coelho / Agência O Globo
Lourenço apostará em peças inspiradas na figura de Carmen Miranda. Herchcovitch, no “movimento de antropofagia cultural”. Já Fraga fará peças inspiradas nos escritores Mário de Andrade e João Cabral de Melo Neto, além do artesão Espedito Seleiro. As informações constam na edição de quinta-feira do Diário Oficial da União.Além de Lourenço, também receberam o sinal verde da ministra projetos apresentados ao Ministério da Cultura (MinC) por Alexandre Herchcovitch (no valor de R$ 2,6 milhões) e Ronaldo Fraga (R$ 2 milhões). Juntos, os três estilistas poderão captar mais de R$ 7,4 milhões para realizar desfiles programados para São Paulo, Nova York e Paris.
Dos três estilistas aprovados, Ronaldo é o mais envolvido com a cultura brasileira, não apenas em termos de criação e design, mas também por ter participado de projetos como exposições e livros — além de usar o Brasil como tema de boa parte de suas coleções.
A decisão de Marta de intervir na aprovação desses três projetos — revelada pelo jornal “Folha de S.Paulo” — gerou polêmica no setor da moda, tanto pelos valores quanto pelo fato de a ministra não ter respeitado o Cnic. Abaixo, Marta defende o movimento como sendo um investimento em marketing, algo ligado à aposta no soft power brasileiro.
Como a Lei Rouanet se aplica à moda?
Tem que ter quatro eixos. O primeiro é que o projeto precisa buscar a internacionalização da moda brasileira. Estamos investindo em soft power (conceito que define poder e influência exercidos por ações culturais). Essa é uma das diretrizes do governo. E a moda é um caminho. Depois, buscamos criações com simbologia brasileira. Temos que caminhar para além do carnaval, do futebol e do samba. Em terceiro lugar, buscamos formar novos agentes. Pessoas que possam virar símbolos do país. E, por fim, queremos projetos que visem a preservação de acervo.
Por que ignorou a decisão do Cnic e aprovou o projeto do Pedro Lourenço?
A votação do conselho foi muito estranha: sete votos contra o projeto e sete abstenções. Quando vi isso, percebi que eles não tinham entendido o conceito que o governo está valorizando muito agora, o conceito do soft power, que é uma das diretrizes nacionais. Temos que levar o país para fora. Temos que ir além daquilo pelo qual já somos conhecidos. Buscamos coisas que agreguem interesse ao Brasil que tragam turistas.
Mas o Cnic existe para fazer uma avaliação e emitir um parecer sobre isso, não?
Sim, mas, quando eu soube que eles tinham vetado os desfiles pensei: “Ai, meu Deus! Eles não entenderam o conceito de moda como cultura. Não conhecem as exposições feitas no Museu D’Orsai, no Museu do Louvre... Não têm visão ampla sobre a nova imagem que queremos construir para o Brasil”. Chanel é um símbolo. Dior também. Podemos ter os nossos.
E como o contribuinte brasileiro tira proveito desses desfiles em Paris?
A projeção que o Brasil vai ter com os desfiles do Pedro é algo que nunca conseguiríamos pagar. É mídia. É marketing! Na última apresentação dele, só no Youtube, ele teve 140 mil acessos. Para nós, esse evento não será só para as 480 pessoas que conseguirão convites via internet. Não são elas que nos preocupam. Estamos de olho nas milhares de pessoas que serão atraídas para o país por uma mídia extraordinária.
Um desfile no exterior custam em média US$ 200 mil (R$ 488 mil). Pedro vai captar R$ 2,8 milhões...
Nessa área, eu delego a competência aos técnicos do ministério. Quando os valores estão muito altos, eles derrubam o projeto. Mas isso acontece antes de chegar ao Cnic. Ou seja, o projeto do Pedro passou pelos técnicos e foi aprovado. Ele deve estar fazendo algo de muita sofisticação para Paris.

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