sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Insensato mundo, por Dora Kramer


Dora Kramer , O Estado de S.Paulo
A frase, no original de Millôr Fernandes, é a seguinte: "Vossa Excelência chegou ao limite da ignorância e, no entanto, prosseguiu".
O Congresso certamente não ignora o cenário em que ocorre a eleição das presidências de suas duas Casas. Até porque não há um dia em que não exista uma nova notícia desabonadora sobre aqueles que já são tidos como escolhidos para comandar a Câmara e o Senado.
Além das suspeitas de todo tipo (processos, inquéritos, fisiologismo, nepotismo, uso indevido de verba parlamentar, manipulação de emendas etc.) há os fatos.
O deputado Henrique Eduardo Alves - concluíram os aliados de então, PSDB e PMDB - não servia para ocupar a vaga de vice-presidente na chapa de José Serra, em 2002, porque em processo de divórcio litigioso sua ex-mulher revelou a existência de depósitos de R$ 15 milhões em contas no exterior sem a devida declaração.
O senador Renan Calheiros foi levado a concluir, em 2007, que não servia para presidir o Senado por causa da história das despesas pessoais pagas por lobista de empreiteira, apresentação de documentação falsa como prova de defesa, uso de laranjas em emissoras de rádio e por aí vai.
Portanto, deputados e senadores não ignoram que, ao menos em tese e por critérios razoáveis de avaliação, nenhum dos dois serviria para ocupar postos de tanto destaque que, entre outras atribuições, os colocam na linha de sucessão da Presidência da República.
Tomando por base a frase de Millôr, dela fiquemos com o conceito da insistência, mas afastemos a hipótese de a motivação se sustentar na ignorância. Imprudência, talvez?
Uma boa dose, sem dúvida. Mas a receita leva outros ingredientes: covardia, descaso, desrespeito, petulância, malícia, zombaria, cinismo, desprovimento completo de espírito público e tudo o mais que compõe o quadro de tranquilidade com que suas excelências chegam ao limite da desmoralização e, no entanto, prosseguem. 

3 comentários:

Alberto disse...

A democracia é caracterizada por garantir a escolha livre dos representantes por seus pares.
O resultado pode não agradar a todos mas não podemos negar que tanto o Deputado Alves como o Senador Calheiros são as figuras que melhor promovem a atual imagem do Congresso.

Clara disse...

Ao invés de ficar protestando tanto e fazendo abaixo-assinados contra a eleição do Renan, o pessoal tem que aprender a votar. Se não votassem nele ele nem senador seria.

Alberto disse...

A Clara tem toda razão mas os candidatos elegíveis são escolhidos por um punhado de caciques corrompidos (vide Sarney).
Nós não temos o direito de escolher mas sim a obrigação de votar.
A reforma eleitoral é urgente.