quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Cartas de Berlim: Ovos orgânicos não tão orgânicos assim




Tamine Maklouf
Odeio admitir, mas vou falar sobre mais um escândalo fresquinho na área dos alimentos, desta vez dos ovos. Ou, mais especificamente, dos ovos orgânicos.
Para ser ainda mais específica, vamos falar das galinhas. Digamos que alguém andou dizendo que elas estavam sendo tratadas com dignidade em troca de seus preciosos pintinhos não nascidos, mas descobriu-se com devida indignação que não era bem assim.
Na Alemanha existem “selos” que determinados alimentos orgânicos trazem na embalagem para mostrar ao consumidor que se trata de fato de um produto “bio”. Como já falei aqui, com a indústria bio cada vez mais lucrativa (ela cresceu 6% em 2012 com relação a 2011) há muita oferta de orgânicos e eles não entram no mercado sem os benditos selos.


Semana passada mesmo eu comprei um vidro de mel orgânico. O rótulo até trazia uma pequena explicação sobre o que sequer era um mel orgânico e como ele é ganho - devem saber que é um conceito difícil de ser assimilado por leigos -, e ainda trazia escrito o país de origem do produto.
Muito legal, se não fossem cinco os países de origem: Alemanha, Romênia, Bulgária, Hungria e Brasil. Isso quer dizer que naquele vidro de 500 gramas havia mel de cinco nacionalidades e, mesmo assim, os produtores me podiam certificar que o mel era “bio”. Agora, como ter controle dessas certificações rolando entre países tão distantes? “Espero que a parte da Romênia seja mesmo bio”, pensei.
Você pode achar que sou condescendente com os alemães. Mas depois de quase quatro anos aqui, eu enfim entendi que alemão simplesmente não dá ponto sem nó. Não dá, eu te digo. Difícil algo passar batido na mão deles.
Então tá, né?
E eis que alguns dias após a minha pequena desconfiança, venho a saber do tal do escândalo dos ovos bio. 150 granjas na região da Baixa Saxônia venderam milhões de ovos declarados como bio, muito embora suas galinhas vivessem espremidas em gaiolas, com bicos cortados, como manda o esquema da produção industrial.
Um ovo orgânico vem de uma galinha criada livremente e alimentada de ração também orgânica. Ao chamarem seus ovos de bio, esses produtores estavam lucrando em cima da boa fé dos coitados dos consumidores preocupados em adquirir ovos mais ecologicamente corretos. O pior de tudo é que as autoridades já estavam cientes das irregularidades, mas abafavam o caso desde 2011.
Eu temo que isso seja apenas a ponta do iceberg. Muita gente ainda vai se decepcionar muito com o mercado de orgânicos na Alemanha.

Um comentário:

Alberto disse...

O problema não é se o produto é "bio" ou não. O problema é saber se o produto é adequado para o consumo humano. Se nem isto eles garantem que adianta introduzir a firula do "bio'?