segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Carta de Toronto: Será o fim do processo democrático?




No primeiro dia de volta ao escritório, o ilustríssimo primeiro-ministro canadense Stephen Harper passou o dia no Twitter narrando sua vida. Do café-da-manhã na companhia do gato Stanley aos encontros com ministros, Harper contou seu dia em detalhes para uma audiência restrita e desinteressada.
Em resumo, o dia na vida do primeiro-ministro canadense se transformou num conto monótono e despolitizado. Pra quem um dia sonhava ser o chefe de Estado do Canadá, os tweets de Harper praticamente infantilizaram as decisões e cerimônias por ele vividas.
A perspectiva cor-de-rosa de Harper desconstruiu a importância política do papel de primeiro-ministro e o impacto que o cargo assume na vida do cidadão canadense e no panorama político internacional.
Políticos canadenses paulatinamente usam as mídias sociais como Twitter e Facebook para conquistar a confiança de suas zonas eleitorais e votos em futuras eleições, especialmente o voto jovem.
No entanto, a cena política calma e tentativas sem sal como a do primeiro-ministro distanciam ainda mais o jovem eleitor canadense.
Um estudo recente publicado pelo Samara – instituto de pesquisa focado na participação política e cidadania –, constatou que apenas 55% dos eleitores estão satisfeitos com o processo democrático canadense, o índice mais baixo de todos os tempos.
O mesmo estudo indica que apenas 27% dos canadenses acham que políticos em Ottawa defendem os interesses dos cidadãos da melhor forma possível.
Num ambiente em que virtualmente todos os parlamentares canadenses estão ao alcance do cidadão, o abismo entre o que afeta a vida do indivíduo e o que é discutido na House of Commons parece cada vez maior.
Leis como a C-45 vêm só para intensificar o sentimento de impotência perante o que é decidido no parlamento. Quando questões cruciais envolvendo o meio-ambiente e imigração são aprovados às pressas sem consulta pública, o trabalhador comum se cala por aqui, baixa a cabeça e segue a vivendo.

O primeiro-ministro Harper e o gato Stanley/ PM Harper

Um dia na vida do primeiro-ministro canadense deveria ser narrado de forma realista e enfática. Já que as mídias sociais nos permitem criar novas discussões e relacionamentos, por que não responder às perguntas indiscretas do cidadão? Por que não usar o espaço virtual para esclarecer a posição do Partido Conservador? Por que não explicar como cada dia na vida do primeiro-ministro impacta a vida de todo o país?
E no Brasil, você se sente incluído(a) no processo democrático?

Veronica Heringer é bacharel em Jornalismo pela PUC-Rio, mestre em Media Production pela Ryerson University e estrategista em marketing digital. Bloga noMadame Heringer.com e escreve para o Blog do Noblat aos domingos.

Um comentário:

Alberto disse...

A teoria da evolução de Darwin nos ensinou que as coisas mudam.
Se no início a terra era o centro do universo, hoje descobrimos que o Sistema de Higgs é a força geradora da massa nos primórdios do "Big Bang".
A Democracia começou numa sociedade escravagista e que restringia o voto a uma casta de privilegiados.
Não sabemos ainda se a carta de Toronto é uma real evolução do sistema democrático ou se é propaganda barata..