sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Cartas de Paris: O caso Florence Cassez e a arrogância



Florence Cassez foi detida em 2005, no México, acusada de participação em um sequestro organizado pelo namorado mexicano, e condenada a 96 anos de prisão.
A francesa ficou sete anos presa, durante este tempo jurou ser inocente e conseguiu o apoio de celebridades e personalidades políticas para sua causa, entre elas a atriz Marion Cotillard e a primeira dama da França, Valérie Trierweiler.
Em 2011, o ex-presidente Nicolas Sarkozy decidiu, com a sutileza que lhe era peculiar, dedicar o ano do México na França a Florence Cassez.
O presidente mexicano na época, Felipe Calderón, chateado com o que chamou de “arrogância francesa” perante a justiça do país latino, decidiu cancelar o evento.
No fim do ano passado, a polícia mexicana disse que o vídeo que mostrava Cassez no lugar do sequestro, uma das provas no processo, era uma montagem.
A justiça mexicana então considerou que havia muitos erros no procedimento, mas não a inocentou. Mesmo assim, Florence (foto abaixo) foi libertada na semana passada e voltou para a França com honras de chefe de Estado.


Nesta história existem várias questões sem resposta: como ela se meteu nessa enrascada? Por que as outras pessoas envolvidas continuam na cadeia?
No México a sociedade ficou dividida entre considerá-la mais uma vítima do sistema ou culpada por um crime. Isso no México, porque na França Cassez é considerada uma heroína. Ela é inocente, afinal é francesa.
Durante os últimos anos, a imprensa na França usou o “affaire Cassez” como exemplo “dos perigos vividos pelos franceses no exterior”.
Outra vítima da justiça estrangeira citada como exemplo é o jovem condenado à prisão perpétua em Singapura porque carregava na mochila droga suficiente para fundar um cartel.
As pessoas na França costumam dizer : “não estamos acostumados com a situação destes países, por isso alguns franceses se envolvem em problemas”.
A que tipo de situação se referem? Seria necessário explicar a todas as francesas em busca de tórridos amantes latinos que sequestros são atividades ilegais também do outro lado do Atlântico?
Na minha opinião, o mais triste nesta história é que o México cumpriu à risca o papel esperado “destes países”: condenou com provas falsas e fez tanta bagunça judicial que perdeu toda credibilidade.
A França, por sua vez, reagiu com toda a arrogância esperada “destes outros países”. Cada um desempenhou seu mais perfeito papel, como costuma acontecer neste tipo de relação diplomática.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

2 comentários:

Alberto disse...

Aqui tivemos o sequestro do Abílio Diniz.

Clara disse...

É isso aí! Os europeus metem o pau e os latino americanos têm que ficar bem quietinhos, pois vivem pisando na bola.