terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Português (e não é piada), por Elton Simões


Elton Simões

Elton Simões 
Viajar de Vancouver ao Rio é uma jornada. Desta vez demorou 21 horas. Precisa realmente de muita vontade. Desta vez, incluindo conexões e tempo de aeroporto, check-in e bagagem, foram 23 horas. Difícil encarar a verdade de que as horas investidas em uma viagem tão longas não voltam mais. Por isso, quando a gente chega, fica sedento de experimentar as coisas boas da terrinha.
Infelizmente, parece que os administradores de aeroportos conspiram para roubar o prazer da viagem. A bagagem atrasa, o ar condicionado não funciona, os funcionários se estressam e os passageiros, como se antecipando, prevendo ou refletindo as imperfeições, transpiram ansiedade.
Apesar dos esforços das entidades responsáveis pela infraestrutura turística em transformar prazer em provação, visitar a terrinha é sempre um prazer. Parece que gente, como os salmões, tem a necessidade de voltar ao local de origem.
A vontade vem do prazer de rever os amigos, andar por lugares familiares e falar (e principalmente ser entendido) na própria língua. O Português tem som único, bonito, expressivo, delicado.
É da manipulação destes sons e da combinação do alfabeto que se formam palavras que transmitem beleza, sentimento e pensamento em língua tão bela. Por isso, como diz a minha editora, todos nós temos a obrigação e a missão de respeitar e honrar a língua portuguesa. Ou morrer tentando. E em honra à beleza do Português, ela faz questão de corrigir e aperfeiçoar meu texto, incluindo os acentos que meu teclado (ou talvez eu mesmo) teima em engolir.


A língua portuguesa é um dos sons mais belos que a garganta pode produzir. É pena que se dê tão pouca atenção à sua utilização, leitura e compreensão. Parece que não existe a compreensão de que, antes de qualquer coisa, o uso correto da língua é o principal ativo para a construção de um povo desenvolvido.
Português corretamente falado e escrito garante beleza e clareza. Mais que isto, garante oportunidade. Já está claro que a maior dificuldade de empregadores é encontrar funcionários que saibam traduzir seus pensamentos em palavras com elegância, precisão e beleza.
Por isso, o ensino do idioma deveria ser prioridade número um. Quem não consegue transmitir pensamentos, não consegue impactar positivamente o mundo. Pensamentos não transmitidos não geram transformação, arte, ação ou oportunidade.
Afinal de contas, como diria o grande filósofo contemporâneo Abelardo Barbosa, quem não se comunica se trumbica.
PS: Dedicado à minha querida editora (e atual amiga) que, todas as semanas, salva meus escritos com seus olhos atentos e correções certeiras.

Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). E-mail: esimoes@uvic.ca. Escreve aqui às segundas-feiras.

Um comentário:

Alberto disse...

Se existe patrimônio cultural o chefe da banda é a língua.
A invasão dos bárbaros está diante de nossos portões.
Se cheeseburger já era ruim imagina o Xburger!