Congestionamento e fila de duas horas para entregar armas à polícia seria um indicativo de que a população de Seattle é pró-desarmamento. Mas a questão, como de praxe, é mais complexa.
Quem saiu de casa no último sábado para deixar suas armas com as autoridades tinha um incentivo financeiro: um vale-compras de US$ 100 ou US$ 200, dependendo do item. A ocasião era excepcional: a polícia coleta armas todo dia, mas o cidadão não recebe nada por isso.
Com expectativa de tirar de circulação em torno de 100 armas por hora ao longo de seis horas, a média de iniciativas semelhantes de outras cidades, a polícia local se surpreendeu com as centenas de pessoas que compareceram a um estacionamento embaixo de uma autoestrada no centro da Seattle.
Resultado: acabou coletando 716 armas em menos de três horas, muito mais do que a previsão mais otimista.
O número poderia ter sido bem maior se não tivesse faltado dinheiro. Foram US$ 78.000 em vale-compras, graças a doações de empresas.
Mas o número poderia ter sido ainda maior principalmente se não tivesse gente nas redondezas abordando as pessoas com a tentadora oferta de receber dinheiro vivo, e não um vale-compras, em troca da arma. E foi assim que muitas armas, possivelmente centenas delas, só fizeram trocar de mãos, mas continuaram em poder da sociedade civil. E sem nenhum tipo de checagem sobre antecedentes criminais, autorização para porte de armas ou sanidade mental, como propõe o presidente Obama.
Foto: Jessica Splenger @CC
A venda de armas, assim, à luz do dia, embora chocante aos olhos de um brasileiro, é prática absolutamente legal no estado de Washington. Teve gente até que abordou quem estava na fila oferecendo uma negociação mais vantajosa, a poucas dezenas de metros dos policiais.
Quem deixou de entregar sua arma à polícia para ganhar mais dinheiro com um comprador particular demonstrou que não está nem aí pra segurança pública. Sabe-se lá quem são essas pessoas. Vi um se dizendo colecionador – como saber se é verdade?
Pró-desarmamento é quem resistiu à tentação e esperou, sim, o tempo que foi preciso para deixar as armas em mãos seguras. Mesmo que tenha tido um retorno em dinheiro para fazer isso.
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.
Um comentário:
Este tipo de comportamento entre outras coisas criou a bolha imobiliária que derrubaria a economia mundial. O dinheiro é o Deus de Tio Sam.
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