Melissa de Andrade
O ano de 2012 acabou com uma nota triste para quem acredita que um bairro é feito de um conjunto de estabelecimentos que lhe conferem personalidade e particularidades. A especulação imobiliária atingiu o restaurante B&O, conhecido pelo extenso cardápio de doces e pela atmosfera descolada que faz fama ao bairro Capitol Hill.
Mal os assíduos frequentadores assimilaram a falta que o lugar vai fazer, vêm outras notícias: o fechamento do café Bauhaus, na mesma área, e de uma loja de vinis supertradicional a 10 minutos dali, a Easy Street Records.
O fenômeno não é exclusivo de Seattle: uma área se valoriza, os aluguéis aumentam de preço, os pequenos negócios aguentam enquanto podem, até que um dia uma proposta melhor fica com o ponto. E sempre tem os fãs do lugar que ficam órfãos com a mudança.
O B&O estava há 36 anos na mesma esquina. Ajudou a definir o bairro de Capitol Hill como se conhece hoje. A despedida tem promessa de reencontro. O complexo que será erguido no lugar terá um espaço no térreo para uma versão compacta do restaurante. E enquanto o novo espaço não fica pronto, o B&O funcionará em Ballard, a 7 quilômetros de distância do endereço original. Numa cidade que valoriza tanto as diferenças entre os bairros, resta saber se o novo público abraçará a proposta do estabelecimento.
A Easy Street Records também terá uma sobrevida. Depois de 12 anos no mesmo ponto, passará a funcionar em West Seattle, a 15 quilômetros do atual endereço, em Lower Queen Anne. Em seu lugar, ficará um banco. O desafio é semelhante: será que a clientela vai se deslocar para continuar a prestigiar a famosa loja?
Cidades são organismos vivos e mudanças como essas são resultado dessa ebulição constante, haverá quem argumente. O problema é quando as mudanças vão descaracterizando a cidade. Seattle perde um pouco sua graça.
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.
Um comentário:
Enquanto isso no Rio:
Onde está o Penafiel?
Porque destruíram a Colombo?
Onde está o Tupã da Mayrink Veiga?
Que fizeram com dois pilares da Sete de Setembro, Casa da China e Feira de Leipzig?
No Leblon perdemos o Restaurante Recreio do Leblon, Bar Luna, Casa Estrela, Yayá Doceira, Doces Cologny etc.
Nostalgia se faz em casa.
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