O que distingue um candidato ameaçado de perder a eleição de outro na mesma condição? Nada. Ou pouca coisa.
Amigos e assessores começam a reclamar de eventuais erros cometidos ao longo da campanha. E pelo menos em relação a um deles todos acabam concordando: o candidato foi muito 'bonzinho". Ah, foi sim. Não respondeu a ataques. E se o fez foi com tanta elegância e cuidado que ninguém notou.
Pronto. Abre-se o caminho para que o nível da campanha vá lá para baixo. E não adianta o responsável pelo marketing argumentar que o eleitor é refratário à troca de desaforos. Que prefere o debate sobre propostas de governo.
A essa altura, o marqueteiro perdeu grande parte da força que tinha. Só não é mandado embora porque falta quem o substitua a poucos dias do fim da campanha. Se só tem tu vai tu mesmo.
Haddad disputa voto até de manequim de loja. Foto: O Globo
Neste momento, essa é a situação de dezenas de candidatos por aí. As pesquisas de intenção de voto indicam que a derrota se avizinha para eles. Mas que nem por isso é inevitável.
Chegou a hora, pois, de gastarem o estoque de acusações contra o adversário. E não importa que sejam verdadeiras ou não. Importa que pareçam verdadeiras. O adversário terá pouco tempo para se defender. Da cintura para baixo, vale tudo.
Um debate de televisão realizado, anteontem, em Manaus, terminou com beijos aplicados por Arthur Virgílio, candidato do PSDB, em Vanessa Grazziotin, candidata do PC do B.
Por que tanta gentileza? E logo na semana em que evangélicos aliados de Vanessa distribuíram um vídeo onde Arthur, no tempo em que era senador, se dizia favorável à legalização do aborto?
Porque as pesquisas apontam uma vitória esmagadora de Arthur.
Quem vence costuma ser generoso. Quem perde - ou receia perder - torna-se amargo.
Os irmãos Gomes (Cid, governador do Ceará, e Ciro, ex-ministro) estão azedos. Seu candidato a prefeito de Fortaleza não consegue ultrapassar nas pesquisas eleitorais o candidato da prefeita Luizianne Lins (PT).
Luizianne é um fenômeno. Elegeu-se prefeita contra a vontade da direção nacional do seu partido. E reelegeu-se.
Até outro dia, era considerada uma má prefeita. O lixo não recolhido tirava parte da beleza da cidade. E o candidato que ela escalara para sucedê-la não levava o menor jeito de que daria conta do recado.
De fato, não leva. A prefeita é que está com todo o jeito de que irá elegê-lo. Para desespero dos irmãos Gomes, a quem ela chama de "os novos coronéis" do Ceará.
Se isso ocorrer, Luizianne será candidata daqui a dois anos à sucessão de Cid.
Ex-líder estudantil, ex-advogado de sindicatos de trabalhadores, o baiano Nelson Pelegrino também ambiciona governar seu Estado. Nada mais natural.
Para isso ele terá antes de vencer um desafio que se auto impôs: eleger-se prefeito de Salvador. Tentou em 2004 - perdeu. Ficou em terceiro lugar. Nas pesquisas de intenção de voto, está sete pontos percentuais atrás de ACM Neto, candidato do DEM. Pelegrino começa a suar frio.
Dilma e Lula, cada um duas vezes, foram a Salvador pedir votos para ele.
A máquina administrativa do Estado, sob o comando do governador Jaques Wagner, opera na base da pressa baiana para catapultar Pelegrino.
Panfletos apócrifos distribuídos aos milhares garantem que ACM Neto, uma vez eleito, acabará com a Bolsa Família. Pouco importa que a Bolsa seja um programa federal amparado em lei.
ACM Neto defendeu-se explicando que não poderia acabar com o programa nem se quisesse - o que não é o caso. E disse que na raiz do Bolsa Família está um programa contra a pobreza idealizado por seu avô, o ex-senador ACM Neto.
Ah, por que ele foi logo dizer isso... Lula acusou-o de tentar roubar a paternidade do Bolsa Família. E chamou-o de mentiroso. ACM Neto fez de conta que Lula nada disse contra ele. Seguiu em frente.
Das grandes capitais que ainda não elegeram prefeito, a situação permanece ainda indefinida em Salvador e Fortaleza.
Serra só escapará de uma derrota em São Paulo se estiverem erradas - e muito - todas as pesquisas eleitorais. Mesmo assim ele não pára de bater em Haddad, candidato do PT. Que retribui as pancadas.
A eleição em Campinas, distante 96 quilômetros da capital paulista, ganhou um peso que jamais teria.
Ali, o PT concorre à prefeitura com o economista Márcio Pochmann, apoiado por Lula e Dilma. Pochmann enfrenta Jonas Donizette (PSB), apoiado pelos governadores Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo, e Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, e o senador mineiro Aécio Neves (PSDB).
Devido aos nomes que envolve, essa é a eleição mais disputada à sombra da eleição presidencial de 2014.
Um comentário:
Que um ou outro candidato seja derrotado é do jogo político.
O importante é que o eleitor seja vitorioso
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