quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Os municípios e o federalismo de faz-de-conta, por Bruno Lima Rocha




No domingo, dia 7 de outubro, durante as horas de votação, viu-se na mídia pública brasileira um momento único. Como era proibido falar da corrida eleitoral e havia a ânsia do debate político, alguns analistas - dentre os quais me incluo – tivemos a chance de debater temas estruturais.
A polêmica se instaurou no problema do endividamento de municípios e estados, e o alongamento desta dívida mediante sua internacionalização, em geral através de irrisórios empréstimos junto ao Banco Mundial. Insisto que isto é absurdo e desnecessário, fruto do centralismo impositivo e do distanciamento entre eleitores e eleitos.
Os municípios são o nível de governo mais frágil da União, onde se sobrecarregam atribuições de serviços públicos, combinando abundância de problemas e recursos escassos. A equação é simples: a república brasileira é uma federação de faz-de-conta, pois o governo central redistribui verbas e pede contra partidas em formas de projetos e complementaridade.
Reconheço ser melhor este formato do que o poder discricionário dos governos militares, quando prefeitos do interior faziam procissão para Brasília e voltavam com promessas de pontes, estradas, hospitais e viadutos.
Mas, nada superaria a divisão proporcional da carga tributária, junto a um aumento da receita líquida, disposta para decisão popular através de medidas como orçamento participativo e plebiscitos. 

A triangulação das mazelas é óbvia. Municípios têm pouco dinheiro em caixa e muitas funções de serviço público; já a União centraliza os impostos e exige uma série de contrapartidas para sua distribuição.
Embora tenhamos o sistema de voto universal, através das emendas parlamentares, deputados federais e estaduais terminam por reservarem “distritos” eleitorais, levando investimentos para seus redutos.
Caso a distribuição impositiva fosse por igual, os 5568 municípios deveriam deter ao menos um terço do bolo fiscal, estando prefeitos e vereadores mais expostos diante da pressão popular. Isto fortaleceria a democracia de tipo direto e mobilizado e não o reforço do sistema de intermediação e troca de prebendas como hoje se verifica.
Some-se a este círculo vicioso o oportunismo político. Quem é correligionário do governo central nunca bate na presidência e nem exige a renegociação integral das dívidas entre níveis de governo. Um novo pacto federativo só vai surgir para além da política profissional brasileira, enfrentando a centralização decisória sem passar pela mediocridade de líderes paroquianos.


Bruno Lima Rocha é cientista político
www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com

Um comentário:

Alberto disse...

O Brasil jamais será uma democracia plena sem que a redistribuição de impostos impeça a feudalização de estados e municípios ao governo central.
Olhem para os países civilizados.
O Brasil é uma aberração.