Biden e Ryan se confrontam em debate agressivo sobre política externa e economia
KENTUCKY, EUA — O vice-presidente Joe Biden partiu para o contra-ataque no debate de ontem no Centre College de Kentucky, confrontando duramente o candidato republicano, o deputado Paul Ryan. Acusou o adversário de distorcer fatos e usou postura agressiva totalmente diferente da passividade exibida pelo presidente Barack Obama diante do ex-governador Mitt Romney na semana passada. O democrata se comportou como um pugilista que tenta manter o adversário no córner, interrompendo-o e questionando suas declarações incessantemente. Mas abusou da ironia e do ar condescendente. A postura incomodou Ryan, que demonstrou impaciência em alguns momentos, mas não perdeu a linha, comportando-se de “forma presidencial”, como notaram alguns analistas. Segundo a rede CNN, Ryan saiu-se melhor para 48% dos telespectadores, contra 44% que favoreceram Biden, considerado pela emissora um empate técnico. Já a CBS, que ouviu apenas eleitores indecisos, cravou vitória de Biden por 50% a 31%.
- Antes de que sequer soubesse que nosso embaixador havia sido morto, Romney estava fazendo uma declaração política que foi exibida pela mídia ao redor do mundo. E essa conversa de fraqueza, não sei do que meu amigo aqui está falando - disse Biden.No primeiro bloco, destinado à política externa, Biden disse que Romney e Ryan “não sabem do que falam”. O vice-presidente interrompeu o adversário várias vezes, afirmando que o que ele dizia era “inacreditável”, rindo e balançando a cabeça, demonstrando inconformismo com as declarações sobre o ataque que resultou na morte de quatro americanos na Líbia. Ryan havia criticado o governo pela falta de segurança para os diplomatas, e Biden o acusou de ter votado, como deputado, a favor de um corte de US$ 300 milhões na segurança das embaixadas.
Ryan: “Querem assustar os eleitores”
Quando a discussão passou para o Irã, os dois disseram que o regime dos aiatolás não deve ter acesso a armas atômicas, mas Ryan afirmou que as sanções econômicas contra Teerã foram aprovadas no Congresso “apesar da resistência do governo Obama”.
- É inacreditável. Imagine se tivéssemos deixado um Congresso republicano decidir. Você acha que haveria possibilidade de que o mundo inteiro tivesse se juntado a nós, a Rússia e a China, todos os nossos aliados? - rebateu.
O democrata também foi eficiente nas respostas sobre economia e reforma da saúde. Lembrou a herança maldita do governo Bush, saudou como prova de sucesso a queda da taxa de desemprego abaixo de 8% e defendeu o plano de estímulo implementado por Obama, que ele supervisionou, e o salvamento da indústria automobilística.
Ao ouvir críticas ao programa de estímulo - que Ryan disse ter aumentado o déficit, escolhido vencedores e gerado investigações sem entregar uma recuperação de verdade da economia - Biden não perdoou, no tom irônico, mas incisivo, que marcou sua performance:
- Eu amo o meu amigo aqui! O programa era tão ruim que ele me mandou cartas pedindo dinheiro de estímulo argumentando que (o investimento) ia gerar empregos.
Diante das afirmações de Biden de que os republicanos aumentariam impostos e elevariam os custos do programa público de saúde para idosos (Medicare), o republicano acusou os democratas de promoverem o medo.
- Já é normal nesta campanha, eles querem assustar os eleitores - disse Ryan, que garantiu a manutenção do Medicare para quem já depende do programa, mas advogou mudanças para as novas gerações.
Biden ressalta “herança maldita”
Ryan defendeu Romney no caso das declarações de que 47% dos americanos são dependentes do governo. Ele garantiu que o ex-governador será presidente de 100% dos americanos e alfinetou Biden, conhecido por suas gafes:
- O vice-presidente sabe muito bem que algumas vezes as palavras não saem da boca da maneira correta. Queremos que todos sejam bem-sucedidos.
Biden então corrigiu uma omissão de Obama no debate passado, quando o presidente evitou abordar a questão:
- Essa gente é como meu pai e minha mãe. São as pessoas que construíram esse país. E eles pagam mais imposto efetivo que o governador Romney paga em seu Imposto de Renda.
Nas considerações finais, Biden retomou o argumento da “herança maldita” do governo anterior, do republicano George W. Bush, e do comprometimento da chapa democrata com a classe média, reforçando o argumento dos 47%. Ryan respondeu:
- Não seria bom ter um criador de empregos na Casa Branca? Mitt Romney e eu não evitaremos os problemas difíceis e não transferiremos as responsabilidades - concluiu Ryan.
Nenhum comentário:
Postar um comentário