Outono sempre chega de repente. Parece que de uma hora para outra as árvores ficam vermelhas ou amarelas. De um dia para o outro a temperatura cai e o tempo fica molhado. Nos dias de chuva, a luz do dia fica fraca.
Quando isto acontece no domingo, ficar em casa é convidativo. Ler os jornais com calma parece ser o programa ideal.
Ler jornais é um hábito do qual é impossível se livrar. Talvez porque os jornais consigam considerar os mesmos fatos através de perspectivas díspares e frequentemente contraditórias. Jornais oferecem a visão do mundo do ponto de vista de janelas diferentes.
Nas páginas do jornal de tudo dá. Tem noticias de gente que previu o fim do mundo; de poderosos disfarçados de mequetrefes; de mequetrefes fantasiados de poderosos; do jogo de ontem; da economia de amanhã; e opiniões sobre isso tudo.
Parece inacreditável que houve um dia em que o jornal só podia ser lido em papel. Para saber as notícias, era indispensável pegar o jornal na porta ou ir ao jornaleiro mais próximo. Nessa época, ler o jornal de manhã cedo era o mesmo que sujar os dedos de tinta.
Nos tempos em que o jornal ainda era somente um conjunto de cadernos de papel impresso com tinta preta, quem acreditava que as notícias não lhe eram favoráveis costumava desqualificar o noticiário. Dizia que, no dia seguinte, todo jornal embrulha peixe. Ou que jornais só serviam para matar mosca.
Nestes tempos digitais em que jornais já não embrulham peixe nem matam mosca, resta aos saudosistas o consolo de que nem tudo mudou. Atacar aqueles que levam a notícia ainda é o esporte predileto dos que preferem que a notícia não seja dada.
Ou, melhor dizendo, daqueles que prefeririam controlar quais, como e em que forma as notícias são dadas.
No fundo, atacar o veículo que transporta a noticia é uma maneira conveniente de evitar a discussão do seu conteúdo. É desviar a atenção do significado do fato para a simples negação de sua existência.
Tudo seria culpa da “elite”, da “mídia”; ou simplesmente “deles”. Deste ponto de vista, os jornais seriam apenas embalagens de peixe destinadas a fornecer material para piadas de salão.
Felizmente, a realidade não permite que a existência dos fatos seja negada. A diversidade de versões sobre os mesmos fatos ajuda a compreender a notícia.
Jornais garantem transparência e pluralidade de visões.
Jornais, analógicos ou digitais, evitam que a realidade adentre o perigoso terreno da galhofa.
Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). E-mail: esimoes@uvic.ca . Escreve aqui às segundas-feiras.
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