Pelo Twitter, candidato derrotado diz que fez apelo pela unidade do país
CARACAS - Como prometido antes do resultado das eleições, o candidato derrotado na Venezuela, Henrique Capriles, e o presidente reeleito, Hugo Chávez, conversaram por telefone nesta segunda-feira. A ligação, que partiu do próprio Chávez, foi “amena”, segundo declarou o presidente em sua conta de Twitter. “Acreditem: mantive uma conversa amena com Henrique Capriles por telefone! Convido à unidade nacional, respeitando as nossas diferenças”.
Mas, apesar de o próprio Henrique Capriles ter reconhecido a derrota, uma parcela de seus eleitores se recusou a aceitar o resultado das urnas, em mais uma prova de que a polarização política persiste apesar da postura conciliadora do candidato opositor. Por meio do Twitter, opositores a Chávez chegaram a veicular cálculos que desacreditariam os números divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral venezuelano (CNE), entre outras supostas provas de irregularidades no processo eleitoral.Capriles também se manifestou na rede social: “Em nome de mais de 6,5 milhões de venezuelanos, fiz um apelo pela unidade do país e pelo respeito a todos”. Ele desejou saúde ao presidente eleito, e reconheceu seu esforço físico durante a campanha.
No começo da tarde, a hashtag #FraudeEnVenezuela chegou à lista de assuntos mais comentados do Twitter no mundo, e permaneceu entre os temas mais mencionados pelos usuários do microblog no país durante todo o dia. Muitos também usaram a hashtag #VenezuelaExigeNuevoConteodeVotos para pedir uma recontagem de votos.
As eleições de domingo que deram a Hugo Chávez o quarto mandato como presidente da Venezuela confirmaram a divisão do país em duas partes com projetos políticos irreconciliáveis, em um resultado que deve ter repercussão internacional, de Havana a Teerã. Com 45% dos votos, a oposição agora se prepara para as eleições para governadores, em dezembro. Para analistas, será uma nova chance de os partidários de Henrique Capriles aumentarem sua influência no país. Em comunicado, os Estados Unidos pediram que o governo venezuelano leve em conta o ponto de vista das 6 milhões de pessoas que votaram na oposição.
Assim que a vitória de Chávez foi oficializada, chavistas foram às ruas de Caracas comemorar, após uma tarde apreensão diante da possibilidade de uma derrota. Entre os oposicionistas, o clima era de consternação, muitos se perguntavam se era mesmo verdade a reeleição do presidente venezuelano, descrentes. Apesar da polarização política, a eleição ocorreu sem incidentes. Quatro pessoas morreram perto de centros de votação, mas não ficou claro se as mortes tinham relação com o pleito.
- Tínhamos depositado todas nossas esperanças esta vez - disse a dona de casa Teresa Pérez, de 51 anos. - Estamos doloridos, tristes, mas não decepcionados. Foi uma campanha incrível, ninguém nunca conseguiu isto.
A diferença de quase dez pontos percentuais pode parecer uma derrota, mas nas eleições de 2006 Chávez ganhou com 26 pontos de vantagem e, em 2000, com 22. Ele venceu em todos os estados, com exceção de Mérida e Táchira. A vitória de Chávez, 58 anos, acontece apesar da incerteza sobre seu estado de saúde - o presidente foi diagnosticado com câncer em junho do ano passado e não tem um herdeiro político claro. Segundo a Constituição venezuelana, se o presidente do país morrer nos primeiros quatro anos de seu mandato, novas eleições devem ser convocadas. Se isso acontece nos últimos dois, o vice-presidente assume o poder.
Para o presidente do Inter-American Dialogue, Michael Shifter, as eleições de domingo são um ponto de virada na História venezuelana. O analista ressalta que Chávez terá que lidar com um povo muito diferente em seu quarto mandato, “uma sociedade mais organizada e confiante”.
Além disso, o presidente tem diante dele um país com altos índices de violência, uma alta taxa de inflação e dependente de importações de alimentos. O jornal “The New York Times” destacou ainda os problemas de infraestrutura da Venezuela, com estradas e pontes desmoronando e os frequentes apagões.
Oposição ganha um líder
Depois da derrota, a oposição deverá se mobilizar para se manter unida, dizem analistas. Em dezembro, os venezuelanos voltam às urnas para escolher novos governadores e os opositores têm chances reais em vários estados. A próxima votação pode ser uma chance de continuar com as propostas da campanha de Henrique Capriles.
- O povo não deve se sentir derrotado - disse Capriles na noite de domingo.
A oposição controla hoje sete dos 24 estados da Venezuela. Para aumentar suas chances nas eleições de dezembro, a oposição deve manter a aliança Unidade Democrática, afirmam analistas. Ao aceitar a derrota, Capriles deu indicações de que vai tentar manter os opositores sob rédea firme, evitando extremistas no grupo.
Para analistas, Capriles encerra a eleição como o novo líder da oposição. Com caras mais jovens, entre eles Leopoldo López, o governador de Zulia, Pablo Pérez, e a deputada María Corina Machado, os oposicionistas conseguiram se distanciar da velha guarda que governou o país desde o retorno da democracia na Venezuela, em 1958. A antiga geração é rejeitada no país por ter integrado governos considerados corruptos e que empobreceram a Venezuela, que conta com a maior reserva de petróleo do mundo.
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