domingo, 1 de julho de 2012

Sem o Paraguai, Venezueka no Mercosul


Em entrevista, Hugo Chávez afirma que a decisão é histórica




Presidente brasileira e argentina se cumprimentam antes da abertura da cúpula: países vão decidir sobre sanções ao novo governo paraguaio
Foto: Enrique Marcarian / Reuters

Presidente brasileira e argentina se cumprimentam antes da abertura da cúpula: países vão decidir sobre sanções ao novo governo paraguaioENRIQUE MARCARIAN / REUTERS
ASSUNÇÃO e MENDOZA, Argentina - Na XLIII Cúpula de Presidentes do Mercosul, que acontece nesta sexta-feira na cidade argentina de Mendoza, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, declarou a entrada da Venezuela no bloco econômico e adiantou que será criada uma comissão da Unasul para acompanhar o processo eleitoral no Paraguai, para garantir a democracia durante o processo.
A Venezuela será incorporada ao bloco em cerimônia no Rio de Janeiro, em 31 de julho, de acordo com Kirchner. Para o presidente venezuelano, a incorporação do país no bloco é “uma decisão histórica”.
- Foi o resultado de um muito esforço. Tudo estava pronto desde muitos anos, mas alguns entraves burocráticos e autoritários atrapalhavam o processo - disse o líder venezuelano em entrevista à rede Telesur.
A presidente brasileira Dilma Rousseff, que assumiu a presidência temporária do bloco, elogiou os líderes do Mercosul pela decisão de punir politicamente o Paraguai:
- Temos de fazer nossos melhores esforços para que as eleições de abril no Paraguai sejam democráticas, livres e justas.
Dilma afirmou que as convicções democráticas no Mercosul são fortes. Referindo-se à incorporação da Venezuela ao bloco, a presidente brasileira convidou os demais países presentes - Equador, Bolívia, Peru e Chile - a se unirem aos esforços de ampliar o grupo.
Durante seu discurso, a líder argentina Cristina Kirchner também assegurou que os governos da região querem evitar novos “golpes suaves” em países do bloco, como aconteceu semana passada no Paraguai. Lembrando uma frase do escritor Jorge Luis Borges, a chefe de Estado argentina afirmou:
- Não nos une tanto o amor, mas sim o espanto.
Para a presidente argentina, o “golpe suave” no Paraguai é um “movimento que debaixo da fachada de certa institucionalidade é, precisamente, o estilhaçamento da ordem constitucional”. Cristina lembrou que os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Bolívia, Evo Morales, também sofreram tentativas de golpes em seus respectivos países.
- Não é a primeira vez que a Unasul se reunirá para tratar situações de risco da vigência democrática - declarou a presidente argentina, que reiterou que o governo do presidente paraguaio, Federico Franco, excluído desta cúpula, não sofrerá sanções econômicas - Não acreditamos nas sanções econômicos porque nunca as pagam os governos, sempre as pagam os povos .
Para Cristina, “não existe no mundo um impeachment que dure dois horas e não tenha possibilidade de defesa”.
- Todo cidadão deve ter a garantia do devido processo, falo como advogada e ex-congressista - enfatizou a chefe de Estado argentina.
Em Mendoza, os presidentes de Brasil, Argentina e Uruguai debateram, em um encontro separado durante esta manhã, a suspensão do Paraguai do bloco. Hugo Chávez e Lugo são os grandes ausentes da cúpula. Fontes confirmaram que o venezuelano desistiu de viajar à Argentina, mas os motivos para sua ausência não foram informados. Chávez pode ter desistido de participar por recomendação médica, somado ao fato de que a adesão pela da Venezuela ao bloco não ser anunciada nesta sexta-feira.
PDVSA corta fornecimento de diesel para o Paraguai
Ainda é preciso analisar a situação do Paraguai e se o Mercosul pode dar esse passo com o país em suspenso até 2013. Já Lugo teria desistido de ir à província argentina para não influenciar a decisão do bloco sobre o novo governo paraguaio, explicou seu ex-chanceler, Jorge Lara Castro.
Também nesta sexta-feira, a PDVSA, empresa estatal de petróleo da Venezuela, cancelou o convênio bilateral de abastecimento de combustível diesel ao Paraguai, em resposta à destituição do ex-presidente Fernando Lugo. Os presidentes do Mercosul estão reunidos na Argentina para decidir sobre a resposta do bloco ao impeachment, mas não devem aprovar sanções econômicas, segundo adiantou o chanceler brasileiro Antonio Patriota.
O presidente da Petróleos Paraguaios (Petropar), Sérgio Escobar, anunciou que a “PDVSA instruiu a companha intermediária Trafigura para que não entregue 150 mil metros cúbicos de diesel até o próximo mês de dezembro, mas o corte não prejudicará o mercado local porque representa apenas 30% do consumo”.
Escobar não soube responder se o Paraguai vai romper ou manter o contrato com a estatal venezuelana para o pagamento em prestações previstas até dezembro de 2013 de uma dívida de US$ 260 milhões acumulada desde 2005.
Franco diz que sanções do Mercosul ‘têm outros interesses’
O novo presidente do Paraguai, Federico Franco, disse nesta sexta-feira que a sanção que o Mercosul deve aplicar contra o país tem “outros interesses em jogo”, mas não especificou que interesses seriam. Na quinta-feira, os chanceleres do bloco concordaram com a suspensão do Paraguai até a realização de novas eleições presidenciais, mas sem impor sanções econômicas.
- A situação do Paraguai com respeito ao Mercosul tem que ser revertida aos poucos. O chanceler paraguaio tem instruções claras e precisas de atualizar as relações com os países vizinhos - afirmou o presidente em uma coletiva de imprensa após se reunir com o vice-presidente, Oscar Denis.
Franco disse ainda que, se suspenso, o Paraguai estará “liberado para tomar decisões”, mas que o governo vai analisar e fazer o que for melhor para os interesses do país. Uma possibilidade para driblar possíveis sanções econômicas seria negociar com EUA, China e outros países.
Correa pede o fechamento de fronteiras com o Paraguai
Antes de entrar para a reunião, o presidente do Equador, Rafael Correa, pediu que medidas severas sejam tomadas contra o Paraguai, inclusive o fechamento de fronteiras e o isolamento econômico.
Correa apelou para que o Mercosul fique “à altura das circunstâncias” e para que os países-membros tomem decisões “verdadeiramente contundentes e radicais” para evitar que novos episódios do tipo aconteçam na América Latina.
- A Unasul tem respostas em sua cláusula democrática. O único que dissuade esses aventureiros, que não podem vencer nas urnas e que usam essas artimanhas, é o isolamento internacional, inclusive econômico - afirmou o presidente, segundo o jornal paraguaio “ABC Color”. - Acreditávamos que tínhamos superado essa época de golpismo, mentiras, artimanhas. No caso do Paraguai, como lhe deram uma embalagem formal e legal, acreditaram que iam sair impunes.

 

Um comentário:

Alberto disse...

Estranha a posição do Brasil neste "imbroglio". Admite aceitar a liderança da Argentina e da Venezuela sendo o maior prejudicado no cenário mundial pois a aliança com os radicais cristina, hugo, evo e rafael nos coloca num gueto de países autoritários de economia em desespero dependendo de atos demagógicos para recuperarem seu prestígio político. Na doutrina do "morde e sopra" concordamos com a exclusão do Merco Sul mas reconhecemos o novo governo do Paraguai como legítimo.
A única justificativa para esta indefinição é não querermos contribuir para um confronto popular onde a Argentina passaria do estado terminal de governo para uma anarquia tipo"Primavera Árabe".