domingo, 1 de julho de 2012

Cartas de Providence - Lana Leite


Numa quinta feira nublada rumo a um compromisso, paro Numa quinta feira nublada rumo a um compromisso, paro diante de um grupo nos degraus do prédio da prefeitura. Lá estão o prefeito de Providence, Angel Tavares, e uma pequena multidão aplaudindo.
Estamos em junho, mês da parada gay em Providence, e essa festa era para comemorar o hasteamento oficial da bandeira do movimento.
Chamou minha atenção pois nem na costa leste dos Estados Unidos, a parte mais liberal e progressiva politicamente a esse respeito, vê-se um prédio ou instituição governamental ostentando esse símbolo.
O prefeito fez uma palestra comovente a respeito de direitos humanos e contra a discriminação. Garantiu que colaboraria com outros políticos para não deixar Rhode Island "ficar para trás" na hora de legislar sobre o casamento gay e citou seu orgulho em passar certas leis que defendem os ideais do movimento – que, na verdade, é a luta por direitos iguais.

Conversando com Kate Monteiro, ativista do movimento e organizadora desse evento, descubro que houve poucos protestos contra o içamento da bandeira e que apesar de ainda não haver uma legislação sobre o casamento gay em Rhode Island, há leis reconhecendo que crimes contra o homossexualismo são tão graves quanto os crimes de racismo.
De acordo com a Amnesty USA, o Brasil é o país da America Latina com o mais elevado índice de crimes contra homossexuais. Algumas pessoas da comunidade gay, ao saberem que sou brasileira, confessam seu espanto ante esse dado negativo, pois têm o Brasil como país repleto de calor humano e generosidade.
E eu pergunto: e quem é contra o movimento? Tem o direito de protestar?
O líder do movimento no Partido Democrático de Providence, Anthony Derose, responde: “Sim, claro, eles têm direito à sua opinião, é seu direito constitucional. Mas da mesma forma, os cidadãos devem ter o direito de amar quem quiser”.
Uma sociedade democrática deve respeitar além do pluralismo político, o pluralismo de ideias. Independente de sua crença, seu direito termina quando o direito do próximo começa; ou seja, cada um no seu quadrado.
Não é uma questão de certo ou errado, mas é a proteção ao direito do cidadão em definir o que é melhor para sua vida pessoal – ficando sempre muito claro que o que não se pode é transgredir o direito do outro.

Nascida em Nova York, de pais brasileirosLanna Marie Leite morou em São Paulo entre 2003-2004 onde lecionou inglês na Wise Up. Mudou-se para Providence, Rhode Island, em 2006, onde cursa Estudos Portugueses e Brasileiros e Relações Internacionais, na Brown University. Escreve para o Blog do Noblat aos sábados.

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