domingo, 12 de fevereiro de 2012

Não Chame os Bombeiros - Zuenir Ventura




Desculpem a irresistível metáfora de mau gosto, mas a Bahia está pegando fogo e não adianta chamar os bombeiros, porque eles estão a favor do incêndio. O líder dos grevistas, do PSDB, é um ex-membro da corporação, e adivinha quem foi para Salvador atiçar as chamas ? Um "soldado do fogo", ou melhor, um cabo, aquele que chefiou a greve do ano passado no Rio. A agitação acontece na terra que tem fama de malemolente. O movimento subversivo ocorre onde movimento mesmo é o do requebro da "sandália de pompom grená", do Caymmi. O carnaval está ameaçado onde, ao que se diz, dura o ano todo. A greve é contra o PT, que historicamente se acostumou a fazer, nunca a sofrê-la. O governador, que em 2001, quando estava do outro lado, era só elogios para manifestação semelhante, agora é radicalmente contra a pimenta nos próprios olhos. O general que comandava as tropas de repressão confraternizou com os grevistas, de quem recebeu bolo de aniversário, foi punido r afastado por isso. Onde já se viu um guerreiro corresponder a um gesto de paz do inimigo ? Guerra é guerra. Decididamente, só há uma concordância nessa crise de tantos sinais trocados: as duas partes cometeram erros. A questão é saber quem cometeu mais.
O governador Jacques Wagner (foto), a quem cabia comandar o processo com serenidade, não teve habilidade política para evitar o enfrentamenti e nem tolerância para conduzir as negociações e evitar o impasse. Mostrou-se intransigente, falou grosso tipo prendo e arrebento, e acabou tendo que chamar tropas do Exército para reprimir os amotinados, demonstrando fraqueza e criando um clima de beligerância. Quanto aos manifestantes, conseguiram cometer todos os excessos, transformando um pleito salarial legítimo em atentados à lei e à ordem pública, com a prática de atos inaceitáveis de violência e vandalismo, além de desvirtuarem o movimento, politizando-o e tentando estendê-lo a outros estados (não há dúvida de que a greve da polícia no Rio teve como estí,ulo o exemplo baiano).
Finalmente, os grevistas abandonaram o prédio da Assembleia Legislativa de Salvador, onde, cercados, resistiam. Foi uma rendição, uma derrota até certo ponto humilhante, ainda que a greve continue.  Nesse tipo de confronto, no entanto, em que a reivindicação social vira caso de polícia, a vitória obtida pela força não pela conversa, não costuma compensar. Ela deixa abertas feridas de mágoa e ressentimentos que custam a cicatrizar. E não é saudável para a sociedade ter seu sistema de segurança alimentado pelo sentimento de frustração e pelo desejo de vingança da tropa. A pacificação e a reconciliação dependem de um gesto de grandeza de quem aparentemente ganhou a guerra, o governo. Ele precisa agora fazer o mais difícil, que é, como se sabe, ganhar a paz.

Um comentário:

Alberto disse...

O senhor Ventura continua o mesmo.
Usa uma metralhadora giratória para demonstrar que todos são culpados mesmo sendo inocentes e vice-versa.