Para além do cantor tido como obsceno, que transitava com desenvoltura pelos temas da libertinagem, Wando foi um artista ousado também em outra seara - e esta não é das suas facetas mais conhecidas. Tal como faziam artistas da elite da MPB, ele também abordou a temática social, naquele que foi o período mais duro da ditadura militar no Brasil. Isto se comprova em algumas de suas canções dos anos 1970, como, por exemplo, "O ferroviário", "Malandro guardado" e, principalmente, "Presidente da favela", abordando a trajetória de um líder comunitário de São Paulo: "Que sirva de exemplo / a todas as favelas brasileiras / arranjem um presidente de boas maneiras / que a vida lá no morro será bem melhor / Dalvino de Freitas, presidente da favela / onde tenho o meu barraco / disse que agora é outro papo / vamos ter ruas calçadas e água boa de beber".
Na impossibilidade de eleger o presidente da República (não havia eleições diretas na época), o brasileiro poderia ao menos eleger o presidente da favela. Além desta referência política, a composição de Wando chamava a atenção para um dos aspectos sociais mais importantes daquele período: a emergência de movimentos de organização de moradores de bairros e comunidades carentes. A canção serviu de estímulo à participação popular, até porque, com o bloqueio dos espaços públicos tradicionais da política - parlamento, sindicatos, partidos -, a resistência espalhava-se por outros caminhos, possibilitando o aparecimento de diversos líderes. E lá estava Wando e dar-lhes voz com suas canções.
2 comentários:
O Wando das calcinhas é o mesmo do Presidente da Favela.
Este patrulhamento ideológico que persiste até hoje é ridículo. A valorização exclusiva da arte com implicações sociais é um desrespeito aos artistas.
Era um cafona simpático. Apesar de não escutar sua música, sempre gostei da figura pública.
E viva às calcinhas!
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