RIO - Um dia após ser demitido pelo Flamengo, Vanderlei Luxemburgo (foto) concedeu entrevista coletiva no hotel onde a delegação rubro-negra está hospedada na Barra da Tijuca. O ex-treinador chegou a se encontrar antes da coletiva com Jaime de Almeida, que vai comandar o time nesta sexta-feira, contra o Olaria.
Sereno, demonstrando tranquilidade, Luxemburgo admitiu problemas com o comprometimento de Ronaldinho, reclamou que teve sua autoridade diante do jogador tirada por Patrícia Amorim e disse se sentiu desrespeitado pelo processo de "fritura" a que foi submetido: 'Foi o processo mais feio de que já participei na minha vida profissional'.
Confira os principais trechos da entrevista:
SOBRE O DESGASTE COMO MOTIVO DA DEMISSÃO
- Desgaste do Luxemburgo? Mas saíram eu, Isaías (Tinoco), (Antonio) Mello, o Lopes Júnior. Futebol sem desgaste não funciona. O importante é como você trata a relação de trabalho. Todas as vezes que tive dirigentes que se posicionaram e fizeram valer a hierarquia, os resultados foram bons.
SOBRE RONALDINHO
- Depois que saí do Atlético-MG, fiz uma reciclagem. Fiquei mais maduro. No ano passado estava mais tranquilo, às vezes fechando os olhos para o comportamento anti-profissional porque tínhamos o objetivo de levar o time à Libertadores. Apesar daquilo me irritar, eu procurava entender e ia levando. Todas as vezes que o atleta chegava atrasado ou sem condições de treinar, era passado para a diretoria. Se alguma atitude não era tomada, não era problema meu.
- Quando relatei os primeiros episódios esse ano (Ronaldinho pediu para não treinar de manhã alegando insônia) e a Patrícia respondeu que isso tinha que ser resolvido no departamento de futebol, eu senti que ali as coisas não iam mudar.
- Ano passado eu cedi. O jogador fazia o que queria. Este ano, comuniquei a Patrícia, ao Luiz Veloso e ao Michel Levy que não aceitaria mais certas coisas. Não poderia perder o comando de 20 e tantos jogadores. Eu mudei. Se a diretoria não quis resolver e preferiu jogar os problemas para debaixo do tapete, não é problema meu. Eu era pago para comandar e o comando tem que ter comando. Se quem comanda o comando não te dá autoridade, aí não tem comando nenhum.
SOBRE A SAÍDA
- Acho que faltou um pouco mais de pulso da diretoria. Senti a Patrícia muito sozinha, sem amparo. Minha saída não é por causa de resultado, até porque o trabalho foi excelente.
- Eu já sabia que ia sair do Flamengo. As notícias publicadas não estão ali porque o jornalista inventou, é porque há a informação. Há mais de um mês eu já sabia que iria sair após esses dois jogos, mas sou profissional e tinha que concluir a etapa do trabalho.
SOBRE A 'FRITURA'
- Pela primeira vez em tantos anos de futebol vi uma "fritura", e essa é a palavra, tão grande. Foi o processo mais feio de que já participei na minha vida profissional. Fui totalmente desrespeitado.
- Aconteceu comigo o mesmo que aconteceu com o Zico, com o Marcos Braz. Será que é o desgaste como foi dito ou te conduzem ao desgaste?
SOBRE PATRÍCIA AMORIM
- Conversando com a Patricia no olho, ontem (quinta), acho que ela tomou a decisão mais pelo "lado" do que por ela. Acho que faltou autoridade à presidente.
- Fui leal a Patrícia Amorim o tempo todo. Inclusive me desgastei por causa dessa lealdade. Me desgastei com o conselho do clube quando disse que o Flamengo estava engessado, me desgastei com o Zico, que é meu compadre, quando antes de um jogo contra o Botafogo disse que ele não devia declarar que não torceria para o Flamengo, mas não sinto que ela foi leal comigo.
SOBRE MICHEL LEVY
- Michel Levy é o homem-chave da administração da Patrícia. Algumas declarações dele trouxeram grande prejuízo. Em Londrina, quando ele chamou os jogadores de "marketeiros" por reclamarem de salário atrasado, os jogadores queriam parar de treinar até que alguém da diretoria fosse até Londrina dar uma explicação. Eu parei e falei "rapaziada, não podemos fazer isso".
SOBRE DEIVID
- Queria pedir à torcida do Flamengo: não vaiem o Deivid. Ele é um jogador extremamente profissional. Ele não recebe desde que chegou ao Flamengo e falam para ele "você não recebe porque quem te contratou foi o Zico". Ele não é mercenário. Antes do jogo contra o Potosí ele tinha entrado na Justiça e eu fui perguntar se ele sentia à vontade para jogar. Ele respondeu: "Estou há dois anos jogando sem receber. Quero jogar. Não me tira do time".
SOBRE O CT
- O Ninho do Urubu é um grande orgulho que levo dessa passagem pelo Flamengo. O Flamengo vai continuar nesse caminho certo. Não tem como retroceder nesse ponto. Não vejo o Flamengo voltando a treinar na Gávea. Pode ir uma vez por mês para que os torcedores e conselheiros vejam um treino, mas o CT é uma conquista e um caminho sem volta.
Um comentário:
Papai Joel vem aí.
Postar um comentário