Vamos reconhecer, com uma pitada de generosidade - ou, quem sabe, com um montão de bondade - que dá um trabalho danado governar o Brasil inteiro, do Oiapoque ao Chuí, como se dizia antigamente.
Hoje, talvez seja adequado trocar a referência geográfica por outra, mais associada à natureza do problema. É complicado à beça tomar conta deste país tão grande quando para isso é necessário manter felizes e bem alimentados (no sentido figurado que a gente conhece muito bem: não estamos falando de barrigas cheias e sim de ambições atendidas) todos os partidos que garantem à presidente Dilma maioria no Congresso.
Em tese e em princípio, cargos no Executivo são ocupados por pessoas tão honestas quanto eficientes. Na prática, não é bem assim ou não é só assim: o leque de ministérios, diretorias e outras posições com algum peso político é montado tendo em vista principalmente o objetivo de garantir ao governo o apoio legislativo que lhe permita administrar o país como achar melhor .Parece uma explicação razoável, mas o que parece estar ficando visível é uma fragilidade preocupante do Executivo. Boas relações com o Legislativo são obviamente indispensáveis, mas não quando o preço do apoio é visivelmente alto demais.
Um episódio da semana passada ilustra isso com absoluta clareza - embota alguns cidadãos da plateia prefiram trocar "absoluta" por "vergonhosa". A presidente há poucos dias demitiu do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) um protegido do deputado Henrique Alves (PMDB). Logo depois, ela teve a ousadia de anunciar que também seria mandado embora de uma subsidiária da Petrobras o ex-senador Sérgio Machado, outro afilhado do PMDB. O partido reagiu com indignação e Dilma recuou.
Aqui fora, a opinião pública tem direito a se declarar perplexa, para não dizer insignada. De duas, uma: ou existiam boas razões para mandar o ex-senador para o chubeiro, ou a sua demissão era injusta e não atendia ao interesse público. Seja qual for a verdade, a presidente sai do episódio com sua imagem dolorosamente arranhada.
Além disso, o apetite voraz dos partidos aliados por cargos no Executivo deixa no ar a desagradável impressão de que eles têm muito a ganhar com isso - talvez algo mais que o aplauso da opinião pública por gestões honestas e eficientes.
Um comentário:
Não sinto fragilidade num executivo que através de barganhas é sustentado, tendo ou não razão, pelo judiciário e pelo legislativo.
Acorda Brasil! Estamos submetidos a uma ditadura velada do executivo.
A única diferença da época da ditadura é a coreografia a que somos submetidos.
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