BRASÍLIA - Horas depois da estreia do julgamento do Mensalão, quinta-feira passada, alguns dos advogados que farão nesta segunda-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) a sustentação oral em defesa de seus clientes se reuniram no restaurante Piantella - antigo reduto político da capital -, quando trocaram as primeiras impressões sobre o comportamento dos 11 magistrados da suprema corte. Eles fizeram considerações sobre as chances de condenação de cada um dos principais réus e nas conversas mais reservadas diziam que o empresário Marcos Valério é um forte candidato a sair preso do julgamento, por juntar o maior número de acusações do chamado “Valerioduto”.
Advogado do ex-presidente do PT José Genoino, Luiz Fernando Pacheco era, naquela noite, um dos que se mostravam mais tranquilos. Certo de que seu cliente será absolvido sem maiores problemas, Pacheco adiantou um pouco do que será a sustentação oral que fará nesta segunda-feira.
- A história verdadeira é que em 2003 o PT estava em crise financeira. Em 2002, quando o presidente ainda era o Zé Dirceu, o Genoino não participou de nenhuma tratativa em relação a dívidas ou contratos, ou decisões da Executiva, porque era candidato em São Paulo. Os acordos todos foram feitos em 2002, para a campanha nacional do Lula. O Zé Dirceu, ao renunciar à presidência do PT em 2003, passou tudo para o Genoino _ disse Pacheco, completando: - O Genoino herdou todos os pepinos da gestão passada. Quando viu que tinha herdado os pepinos, reuniu a Executiva, que decidiu: cabe ao secretário de finanças procurar uma solução. Caberia a quem? Ao Diretório Nacional do PT se reunir e reconhecer o tamanho da inadimplência. Então o Delúbio teve um cheque em branco para fazer o que fosse preciso. Ele foi eleito, eleito! secretário de finanças pelo partido, para isso.
Mesmo com essa linha adotada pela defesa de Genoino, a convicção do grupo de advogados dos principais réus é que José Dirceu não deve ser condenado pelo Supremo. Na primeira noite no Piantela estavam lá, enter outros, Marcelo Leonardo, advogado de Marcos Valério, junto com outros quatro advogados de sua equipe; Luiz Fernando Pacheco e outros auxiliares, e Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado de Duda Mendonça e de sua sócia Zilmar Fernandes.
- A defesa do José Dirceu é muito boa porque tem prova zero contra ele. O que tem é que o cara era poderoso. Mas isso se chama responsabilidade objetiva, um diretor de uma empresa não pode ser responsabilizado pelos atos de funcionários. Ninguém no mundo pode ser condenado por isso. Hoje é mais fácil o Zé Dirceu ser absolvido do que o Duda Mendonça, que responde por evasão de divisas e lavagem de dinheiro - avaliou um dos advogados.
Os advogados reunidos trataram também da possibilidade de o ministro Cezar Peluso votar no processo. Como está perto de se aposentar (3 de setembro), uma das possibilidades, segundo eles, é que o ministro relator Joaquim Barbosa resuma sua participação para não perder tempo. Mas o consideram muito “vaidoso” para reduzir o tempo de sua exposição.
Sobre a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não ter pedido o impedimento do ministro José Antônio Dias Toffoli, consideraram que foi uma decisão conjunta com o presidente do STF, ministro Ayres Brito, para não tumultuar o julgamento.
- Onde passa um boi passa uma boiada. Se o Gurgel pedisse o impedimento do Toffoli, amanhã qualquer um poderia ir na tribuna e pedir o impedimento de outro. E ia virar uma coisa incontrolável - acredita um dos advogados presentes.
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