Na sua cruzada pela difusão da leitura no país, Ziraldo provocou polêmica aqui na Bienal do Livro de SP, ao afirmar que os pais hoje não percebem que seus filhos estão ficando “idiotas”. E que a culpa é da internet.
Muita gente concordou com a afirmação, que a outros pareceu exagerada, até que o professor de física Pierluigi Piazzi disse depois mais ou menos o mesmo, com mais ênfase. Para ele, a internet está criando jovens “imbecilizados”, “deficientes mentais”, uma “geração talidomida”, a ponto de o Hospital das Clínicas ter criado, segundo ele, um departamento de “desintoxicação” desses viciados.
Citou ainda a experiência feita numa universidade dos EUA, quando, impedidos de acesso a computador e celular por três dias, usuários compulsivos desenvolveram a síndrome de abstinência, como a de qualquer dependente de drogas. “Tiveram vômitos, dor de cabeça, febre e convulsão.”
Fiquei impressionado, porque um amigo acabara de me informar que, por insistência da família, estava se tratando com um psicanalista para se libertar do celular (e, claro, da internet). Tomara consciência de que estava doente, inclusive porque era mais fácil conversar com ele por telefone do que pessoalmente, mesmo em sua presença.
Apesar de não correr o risco, porque nem celular tenho, acho que atribuir à tecnologia toda a culpa pelo pouco caso com o livro me parece injusto.
A responsabilidade tem que ser repartida também com a família e a escola. Num lar onde os pais não saem da frente do computador ou da televisão e não gostam de ler, os filhos dificilmente vão gostar, porque tendem à imitação.
O contrário funciona como estímulo: o gosto pela leitura começa em casa e pode se desenvolver na escola, desde que não seja imposta como obrigação.
Pra não dizer que não falei de Alice, minha neta prova que é possível a convivência. Ela lida tão bem com as novas tecnologias da comunicação que me dá aulas de ipad. Ao mesmo tempo, adora ler, isto é, vive pedindo que leiam para ela uma história, inclusive as do Ziraldo.
Aliás, uma vez em Porto Alegre, diante de uma plateia de professoras, eu lamentava que os jovens tivessem perdido o gosto pela leitura, quando uma delas me corrigiu: “Só se for o adolescente, porque as crianças estão lendo.”
E contou o que ocorrera na véspera, quando cerca de 2 mil leitores mirins tinham se aglomerado para ver e ouvir o autor infantil preferido deles. Seu nome: Ziraldo. Em suma, é preciso não generalizar os casos patológicos.
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