quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Palavra da defesa, - Miriam Leitão



José Dirceu não sabia o que se passava no PT porque estava muito ocupado na Casa Civil. José Genoino foi falho na gestão do PT porque gostava mesmo era de política. Delúbio Soares cometeu apenas um ilícito: caixa dois de campanha. Marcos Valério distribuiu dinheiro a 67 pessoas mas não foi corrupção. É o que disseram os advogados de defesa de quatro dos principais acusados.
A estratégia entre os advogados de defesa dos réus do mensalão foi acusar o Ministério Público de não ter se baseado apenas em depoimentos em juízo com o “contraditório”. O procurador-geral da República, na verdade, registrou logo no começo da sua fala, na sexta-feira, que estava usando as provas dos “milhares de documentos” das 50.508 folhas da Ação Penal.
Os advogados sustentaram também que não houve compra de voto, nem era dinheiro público, e que não houve decisão de funcionários da administração pública — atos de ofício — determinada pela distribuição de dinheiro. 
Segundo o advogado de Marcos Valério, o deputado João Paulo Cunha não tinha qualquer poder sobre o contrato de publicidade da Câmara dos Deputados, apesar de ser o presidente da Casa.
Fora alguns pontos em comum, os advogados seguiram linhas que ajudam seus clientes, mas criam zonas de sombra sobre os outros. O advogado de José Dirceu quis afastar seu cliente de qualquer das atividades executadas no partido, alegando que ele se ausentou da presidência quando assumiu a Casa Civil. Não defendeu os atos do partido.
O de José Genoíno alegou que à época da campanha de 2002 ele estava disputando o governo de São Paulo e, portanto, nada soube das decisões da campanha presidencial. O de Delúbio Soares afirmou que foi pedido a ele, como tesoureiro, que resolvesse o problema das finanças em frangalhos do PT. E por isso ele pediu empréstimos através das empresas de Marcos Valério.
A SMP&B e a DNA de fato pegaram empréstimos e distribuíram dinheiro a políticos. Um dos bancos a conceder esses recursos foi o Banco Rural. José Dirceu se encontrou sim com a diretoria do Banco Rural, e um desses encontros foi mesmo em Belo Horizonte, mas ele havia viajado para a capital mineira em compromissos oficiais e lá se encontrou com “empresários”.
Tudo sendo verdade, fica faltando explicação. Se o dinheiro que foi distribuído por Marcos Valério tinha origem legal, conseguido através desses empréstimos, por que mesmo teve que ser entregue em espécie, em volumes altos, fugindo do sistema bancário? Por que o PT precisava que o empréstimo fosse feito através de uma agência de publicidade? 

4 comentários:

Clara disse...

Não me iludo com relação ao resultado deste processo. Neste país é difícil ter ilusões de justiça sendo feita.

Anônimo disse...

E assim vão sendo colocados os ingredientes na massa da grande pizza que se arma para enfiarem pela nossa goela abaixo.
E a culpa é nossa. Enquanto não agirmos de acordo com a idéia de que o poder emana do povo, e dever ser exercido pelo povo para o povo, nosso país continuará sendo uma terra de pilantras e otários.

Alberto disse...

Teremos um Brasil modificado após este julgamento. Os políticos aprenderão que os dias da impunidade geral e irrestrita terminaram. A população finalmente descobrirá a importância de sua indignação. As punições muito aquém do desejado promoverão finalmente uma reforma no Sistema Judiciário.

Anônimo disse...

Sr. Alberto com o devido respeito à sua opinião, mas "Teremos um Brasil modificado após este julgamento." é a declaração mais ingênua que ouvi nos últimos tempos.
Que tal lhe parece o desempenho do Sr. Lewandowski?