No diálogo, Cachoeira orienta Garcez a enganar Walter Paulo sobre venda da casa
BRASÍLIA - Novas gravações feitas pela Polícia Federal com autorização judicial colocam ainda mais dúvidas sobre a transação envolvendo a casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Segundo conversas divulgadas pela própria assessoria de Perillo e exibidas pelo Jornal Nacional nesta quinta-feira, o bicheiro Carlinhos Cachoeira aparece conversando com o ex-vereador Wladmir Garcez sobre a venda e tentando cobrar mais caro do empresário Walter Paulo, que seria o comprador oficial do imóvel de Perillo.
No diálogo, Cachoeira orienta Garcez a enganar Walter Paulo. Na frente do empresário, o ex-vereador deveria simular um telefonema, fingindo que está conversando com Lúcio Fiúza, assessor de Perillo. A assessoria do governador sustenta que as novas conversas atestariam que Cachoeira e Garcez usaram inadivertidamente o nome de Perillo e um assesssor dele.
Fiúza participou da negociação da venda da casa de Perillo. Assinou recibos para Garcez e teria recebido das mãos de Walter Paulo R$ 1,4 milhão pela venda da casa. Mas Perillo, na verdade, recebeu o pagamento em três cheques que Garcez recebeu de pessoas ligadas a Cachoeira. O governador alega que não sabia de quem eram os cheques.
- Você vai falar: ‘Ó, Seu Lúcio, tô aqui com...’ O governador não tá aí, né? ‘Tô aqui com o professor Walter, tô fechando com ele aqui, ele ofereceu tanto’ - diz Cachoeira, na gravação.
Uma hora depois, Wladmir diz a Cachoeira que conversou com Walter Paulo. Os dois discutem valores para a transação imobiliária. A cifra é maior do que os R$ 1,4 milhão oficialmente registrados na escritura.
- Carlinhos, ele mandou, deixar eu ver aqui... Foi R$ 1.500 (milhão) em dinheiro e R$ 500 mil em gado, sabe? Mas aí eu vou conversar pessoalmente com o doutor Lúcio, que esse trem por telefone é ruim demais - diz Garcez.
"Independentemente desta gravação, a versão correta dos fatos é a apresentada pelo governador desde sua primeira entrevista. Os depoimentos à CPMI e as gravações até agora divulgadas sempre corroboraram tudo o que foi dito pelo governador Marconi Perillo. Ele vendeu um imóvel de sua propriedade pelo valor de mercado, depositou os cheques da venda em sua conta corrente, escriturou o imóvel pelo valor da transação e declarou tudo à Receita Federal. Portanto, nenhum ato ilegal foi praticado pelo governador", diz nota divulgada pela assessoria de Perillo.
A conversa entre Cachoeira e Garcez foi captada pela PF em julho do ano passado, ou seja, depois da data em que Perillo informou ter recebeido os três cheques: abril, maio e junho. Em nota, a assessoria diz que o bicheiro e o ex-vereador é que podem explicar isso e que o governador não se responsabiliza por conversas de terceiros.
Na nota, a assessoria reitera ainda a versão do governador, de que ele "jamais teve conhecimento de que Cachoeira teria participado do negócio". Também diz que "as gravações mostram claramente que o grupo agia sem o conhecimento dele".
A gravação também apresenta uma versão diferente à dada por Walter Paulo na terça-feira em depoimento à CPMI. Na ocasião o empresário afirmou que ofereceu R$ 1,4 milhão pela casa, um preço que ele considerou bom, além de uma comissão de R$ 100 mil a Garcez. Na conversa com Cachoeira, Garcez fala em R$ 1,5 milhão em dinheiro e R$ 500 mil em gado.
Na próxima semana, o governador será interrogado pela CPI e a venda da casa deve ser um dos principais temas.
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