quinta-feira, 21 de junho de 2012

Lula, Maluf e a memória operária - Bruno Lima Rocha



É senso comum afirmar que a política profissional é a arte da traição, uma carreira perfeita para traidores de classe ou ambas as opções, dentre dezenas de outras com péssima caracterização.
Ninguém precisa ser experto em análise política para deduzir que me refiro a aliança entre o pré-candidato do PT para a Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad e o ex-prefeito e ex-governador e ex-candidato à Presidência pelo partido de apoio da ditadura militar, o engenheiro Paulo Salim Maluf (PP).
Longe de pensar em termos moralistas (embora um pouco de moral pública nunca faça mal), aponto para o tema da acumulação de forças através da memória histórica.
Luiz Inácio posar ao lado de Paulo Salim em fotos de difusão, celebrando a aliança de ocasião com o político mais internacional do Brasil além dele próprio (isto porque Maluf está na lista da Interpol), é uma chibatada na história recente do sindicalismo brasileiro em geral, e do operariado fabril em particular.
Para os que pensam ser exagero, trago a memória histórica como prova cabal. Em 1979, o então arenista, homem de confiança do regime de exceção, era justamente o governador dos paulistas, Paulo Maluf.
Como os pioneiros do sindicalismo autêntico devem se lembrar, São Paulo capital era território dos pelegos, capitaneados por Joaquinzão e seus herdeiros, os mesmos que vieram a organizar a Força Sindical e ocupar a pasta do Trabalho nos anos de Lula.
No ABC, o grupo autêntico construíra nova hegemonia, mas na capital a situação era mais dura para as oposições sindicais.
30 de outubro de 1979 é a data do martírio da liderança que poderia rivalizar com Lula nos anos seguintes. Santo Dias da Silva (Santo Dias), sindicalista negro e oriundo das Comunidades Eclesiais de Base foi assassinado pela Polícia Militar sob comando de Maluf.
O fato comoveu a cidade e o país, vindo a se eternizar no filme Eles não Usam Black-Tie (Leon Hírzman,1981), obra esta que é filmografia em qualquer curso de formação sindical e de movimento popular (eu mesmo já o apliquei em dezenas de oficinas).
Quando os analistas e acadêmicos estudiosos da política se perguntam os porquês da desmobilização da sociedade brasileira, esta referência simbólica pode ser uma boa pista. Infelizmente, o pragmatismo político (a maldita real politik) opera com a mesma virulência da ROTA dos tempos áureos do malufismo agora ressuscitado.
Santo Dias e centenas de outros, foram novamente assassinados, com a foto dos novos aliados, Lula e Maluf.

2 comentários:

Alberto disse...

A memória operária parece ser curta.
Na velha Roma, Cícero ao se candidatar a Cônsul recebeu uma carta de seu irmão Caio indicando os passos que o levariam à vitória na eleição do Senado.
Lula está seguindo à risca os métodos de Caio.
Os conselhos deram certo para Cícero mas sabemos que o Haddad não é nenhum Cícero.

Luiz Carlos disse...

Sr. Alberto,
E Lula não é nenhum Caio...