Governador de Goiás presta esclarecimentos por mais de cinco horas
BRASÍLIA - O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), afirmou, em seu depoimento à CPMI do Cachoeira na manhã desta terça-feira, que a venda da sua casa foi “totalmente” legal. Ele ressaltou por diversas vezes que “vendeu uma propriedade sua, e não um bem do estado”, e que só depois de receber o valor total do negócio descobriu que o ex-vereador Wladimir Garcez teria conseguido um empréstimo para comprar o imóvel. Perillo disse que depositou em sua conta pessoal o valor, e declarou no imposto de renda.
Perillo explicou também que o ex-assessor dele Lúcio Gouthier Fiúza estava presente na revenda da casa para o empresário Walter Paulo Santiago porque o imóvel ainda estava no nome dele, e não no de Wladimir Garcez.- Eu recebi três cheques pré-datados. E já me arrependi de não ter visto de quem era o cheque.
- Meu representante não recebeu qualquer valor na negociação da casa com Walter Paulo. Vendi a casa no valor do mercado para Wladimir Garcez. Não recebi duas vezes pelo imóvel - garantiu o governador.
E acrescentou:
- Se a negociação fosse fraudulenta, eu jamais teria declarado a venda à Receita Federal e ter colocado anúncio nos classificados - concluiu.
Indicações de Demóstenes e Garcez
Perillo também negou durante o depoimento que Cachoeira tenha indicado Edvaldo Cardoso para assumir o Detran no Estado. No entanto, admitiu que contratou algumas pessoas indicadas pelo senador Demóstenes Torres (sem partido - GO) e pelo ex-vereador Wladimir Garcez, apontados pela Polícia Federal como aliados de Cachoeira em diversos esquemas.
- O Wladimir fez pedidos pessoais dele na condição de político e vereador. Não sei quanto o Wladimir levou (pedidos), mas atendemos poucos (...) O Demóstenes sugeriu para o primeiro escalão o suplente dele e outros nomes de pessoas qualificadas que foram nomeadas - reiterou
Ao ser questionado sobre o mensalão, ele afirmou que denunciou pessoalmente o esquema ao ex-presidente Lula, em 2005, mas procurou não explorar o tema durante seu depoimento, que serviria de embate caso houvesse pressão da bancada petista.
- O foco desta CPI não é o mensalão. Não vou voltar a este tema. São águas passadas.Não guardo rancor. Cumpri meu papel à época. Em assuntos que desconheço, não posso fazer nada - disse Marconi.
Relação com Cachoeira
Durante o depoimento ele negou ter qualquer "relação de proximidade" com o contraventor Carlinhos Cachoeira, destacando que as gravações telefônicas da Polícia Federal registram apenas um diálogo dele com o contraventor, por ocasião do aniversário de Cachoeira.
- Só há uma e fortuita ligação telefônica. Estava na casa de um amigo, quando alguém dos presentes me disse que era aniversário do senhor Carlos Cachoeira. Me perguntou se eu aceitaria falar com ele pela data. Não estava ali telefonando para um contraventor, mas para um empresário que atuava no setor de medicamentos, sócio do maior laboratório de bioequivalência (de Goiás). Disse que, se ele telefonasse, eu falaria. Conversa rápida e trivial.
Ao ser questionado pelo deputado Felipe Pereira sobre quantas vezes esteve com Carlinhos Cachoeira, Perillo explicou que esteve com ele por três vezes - a primeira no Palácio das Esmeraldas, a segunda no Detran e a terceira na casa do senador Demóstenes Torres. Perguntado se ele sabia que Cachoeira era o principal contraventor de Goiás, o governador explicou que, inicialmente, sabia que Cachoeira trabalhava com jogos de loteria do estado, e depois foi apresentado como sócio de uma indústria de medicamentos.
Sobre Delta e Jayme Rincón
Questionado sobre Jayme Rincón, que foi coordenador financeiro da campanha de Perillo e que teria recebido de Cachoeira, por meio de sua empresa, uma quantia de R$ 600 mil, o governador disse que desconhece o fato e que sua prestação de contas foi aprovada após as eleições de 2010.
- Eu desafio qualquer pessoa no Brasil, qualquer consultoria, a descobrir qualquer esquema de empreiteiros, qualquer propina ou outra irregularidade no meu governo. Não existe isso. Me estranha muito eu estar o tempo inteiro na imprensa por ter vendido a minha casa - disse Perillo, que sempre tentava mudar de tema quando o assunto Rincón surgia na CPI.
Sobre os contratos com a Delta, Perillo disse que o governo de Goiás tem 19 contratos firmados com a empresa, sendo que sete foram feitos durante a sua administração. Ele afirmou que não houve nenhuma irregularidade durante a contratação dos serviços da empresa.
Ao responder perguntas do relator Odair Cunha (PT- MG) o governador disse que o estado tem apenas 4% de contratos assinados com a Delta, num total de R$ 51 milhões, contra R$ 64 milhões do governo anterior. Ele afirmou também que o ex-vereador Garcez nunca tratou com ele sobre assuntos relacionados à Delta, mas que tinha conhecimento que ele procurou algumas pessoas do governo. Garcez é apontado pela PF como a pessoa que levava ao governo os pleitos do contraventor Cachoeira ao governo de Goiás.
Perillo negou conhecer o ex-presidente da construtora Delta, Fernando Cavendish, e afirmou ter estado com o ex-diretor da empreiteira no Centro-Oeste, Claudio Abreu.
-Nunca conversei com o Fernando Cavendish. Sei que ele já esteve em Goiás, mas comigo nunca. Não o conheço. Claudio Abreu, estive com ele uma vez, acho que foi na casa do senador Demóstenes (Torres, sem partido-GO). E estive com ele uma ou duas vezes na campanha – disse Perillo.
Perillo também negou que o jornalista Luiz Carlos Bordoni tenha recebido, por intermédio do contraventor Carlinhos Cachoeira, por serviços prestados na campanha eleitoral em 2010.
- Ele terá oportunidade de apresentar as provas ou aqui ou na Justiça. Cabe a ele, como acusador, o ônus da prova - disse, ressaltando que ajuizou ação por calúnia, injúria e difamação contra o jornalista, que diz ter recebido R$ 40 mil das mãos do governador.
Perillo falou sobre suas administrações no governo de Goiás, que, segundo ele, registrou aumento no PIB e na geração de emprego e renda neste estado. E, a todo momento, se dizia vítima de uma "grande injustiça". Segundo ele, muitos veículos de comunicação estão divulgando informações descontextualizadas.
Bate-boca entre tucanos e o relator
Houve um início de confusão entre o relator da CPI, Odair Cunha, com o deputado federal Carlos Sampaio e outros deputados tucanos, já no final do depoimento do governador de Goiás.
O PSDB mandou uma tropa de choque para acompanhar o depoimento de Perillo. E a tropa entrou em ação no momento mais tenso até agora, quando o relator da CPI, o petista Odair Cunha (PT-MG), disse que o governador era investigado. Os tucanos protestaram aos gritos dizendo que Perillo era apenas testemunha.
- O senhor está aí como relator ou vice-líder do PT? - gritou um tucano.
- Não é de hoje que denuncio que o relator é veemente para atender os interesses de seu partido - disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
Durante o depoimento, Sampaio enalteceu o fato de ele ter se oferecido para depor, ao contrário dos outros governadores e ainda destacou que Perillo "explicou muito bem" o episódio da venda de sua casa.
Um comentário:
Me incomoda ver uma emissora como a GNT transmitindo o dia inteiro aqueles papos mentirosos, aquele desfile de "caras de pau", como se algo de bom e justo fosse acabar acontecendo no final.
Postar um comentário