Certos mitos da teledramaturgia de vez em quando se desmancham, ou ficam esquecidos quando uma história é bem contada e fisga o público. Um deles, muito arraigado, é o da intocabilidade de certas relações familiares. Entre essas crenças está a de que mãe e filha não podem disputar um namorado, sob pena de os espectadores rejeitarem a novela. Silvio de Abreu fez isso em “Passione”, entre as personagens de Maitê Proença e Tammy di Calafiori, e deu tudo certo. Em “Avenida Brasil”, João Emanuel Carneiro vem dando certos nós em laços familiares considerados sagrados. Carminha é a mãe biológica de Jorginho, mas ele gosta mesmo de seu pai adotivo. Num capítulo esta semana, o garoto rompeu mais um tabu teledramatúrgico: depois de receber de sua mãe um tapa na cara, só não revidou porque foi impedido por Tufão. Carminha é desnaturada, mas ainda assim o gesto foi violento.
O tema é recorrente na obra de João Emanuel Carneiro. Em “A favorita”, o centro da disputa entre Flora e Donatela era a filha de uma criada pela outra. Ele ia ainda bem mais longe. Flora, a vilã, mandava brasa nas maldades que fazia com o próprio pai. Ele, por sua vez, era tratado com o maior carinho por Donatela, filha adotiva. É uma espécie de la ronde familiar.
O Divino de “Avenida Brasil” pode ser um subúrbio idealizado e povoado de valores conservadores. Mas a desconstrução da família clássica é interessante. E não é aquela desconstrução batida, de filhos de vários casamentos etc. É diferente.
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