No Brasil, muitos políticos se perpetuam no poder com os cotos da clientela dos grotões e dos currais eleitorais, apesar de rejeitados pelo eleitorado com mais educação e informação. Assim, a ignorância, a miséria e o atraso que os elegem também se perpetuam em "mercados eleitorais" como o Maranhão e Alagoas.
Mas na Itália, culta, rica, informada, politizada e democrática, não é fácil entender como Berlusconi, que não fica nada a dever aos nossos sarneys, collors e renans, mantém tanto poder.
Não basta a decepção popular com a incompetência do breve governo de centro-esquerda para explicar sua volta pela falta de opções. É assunto para intermináveis debates, com a paixão e a verbosidade habituais dos italianos. Mas agora Berlusconi está ameaçado não por corrupção ou luta partidári, mas por um adversário improvável e perigoso: as mulheres.
Escândalos sexuais de políticos não provocam grandes reações na Europa, mas o libidinoso "Berlusca" é tão machista, tão promíscuo e desrespeitoso com as mulheres, que começa a sofrer baixas em seu eleitorado feminino. A libido de Berlusconi provoca na opinião pública o que a esquerda, a imprensa e os cidadãos indignados não conseguiram com seus discursos e denúncias.
Ele tanto humilhou publicamente a esposa que ela pediu divórcio, acusando-o de ter um casi com uma garota de 18 anos. Uma sucessão de escândalos com prostitutas e políticos expôs Berlusconi como um consumidor de mulheres, um predador, um cafajeste patológico. Em um país onde as mulheres, além da beleza, têm muita força política.
O machismo italiuano, de amplo espectro político, apoia e se orgulha do "Berlusca": a maioria das mulheres, até as conservadoras, de direita, racista o detesta. Vale a pena acompanhar essa fervilhante comédia dramática italiana, com a exuberância e o humor de sempre, mas com uma novidade: um país de primeiríssimo mundo pode ter seus rumos decididos não entre esquerda e direita, pobres e ricos, velhos e jovens, mas entre homens e mulheres.
Nem um gênio da comédia como Dino Risi imaginaria uma eleição na Itália decidida pelo voto sexual.
2 comentários:
Decidir uma posição política em função do sexo é realmente o fundo do poço para qualquer democracia.
Como está na moda a busca da reforma dos costumes olhando para o passado,poderemos ter brevemente na Itália a eleição de Júlio Cesar que para assumir o poder renunciou à sua amante, mãe de Marcus Junius Brutus que mais tarde participaria do assassinato do imperador.
Machismo e muitos outros comportamentos se perpetuam na humanidade. Mesmo parecendo uma coisa sem importãncia, muitos desses comportamentos se desdobram em verdadeiras atrocidades de violência e discriminação.
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