Paris — Antes eram só japoneses, hoje é difícil distinguir entre as etnias orientais que fazem fila para entrar na Vuitton e outras lojas caras de Paris, mas a maioria é certamente chinesa. O mercado do luxo não sente a crise em nenhuma circunstância, mas chineses com dinheiro estão movimentando o setor acima do normal.
Os chineses estão comprando a França, ou pelo menos aquela França que a gente só vislumbra nas vitrines das lojas de nome e na propaganda das grandes grifes, no maravilhoso mundo dos recursos ilimitados. E o que não podem levar para casa os chineses compram e deixam por aqui.
E o que não podem levar para casa os chineses compram e deixam por aqui. Por exemplo: vinhedos. Há dias li no “Le Monde” que mais de vinte “chateaux” da grande região vinícola de Bordeaux pertencem hoje a chineses, entre proprietários privados e consórcios.
Nada muda nos métodos de produção ou, imagino, no pessoal dos “chateaux”, os chineses apenas passam a importar vinhos deles mesmos.
A sede de vinho é tamanha na China que um dos problemas no seu comércio com produtores franceses era a falsificação. Há alguns anos descobriram que tinham sido vendidas mais garrafas de Chateau Lafite-Rothschild 1982 na China do que produzidas na França. A partir de 2008 os chineses começaram a comprar seus próprios “chateaux”.
Segundo o “Le Monde”, além das compras já feitas, existem mais umas quinze sendo negociadas.
É conhecida a história do enólogo francês contratado para estabelecer uma indústria de vinhos na Califórnia. O francês orientou todo o processo, desde a compra e preparação da terra até a escolha das vinhas e o método de plantio e colheita e armazenamento, e quando completou seu trabalho e a Califórnia estava tecnicamente preparada para fazer um vinho igual ao francês, o enólogo declarou:
— Pronto, agora é só esperar 300 anos.
A história é inventada, claro. A Califórnia demorou um pouco, mas não precisou esperar 300 anos para fazer um vinho respeitável. Mas mais práticos estão sendo os chineses. Compram logo os 300 anos.
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