Lula tem uma infinita fé no seu taco. Já transformou greve derrotada em vitória política. Em 2008 jogou o peso de sua presidência pedindo à população que consumisse, no auge da depressão mundial. Acertou e prevaleceu.
Em janeiro passado deixou-se atrair pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que parecia disposto a aliar-se ao PT na eleição de outubro, apoiando a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad. Lula contrariou uma parte de sua base e, sobretudo, a senadora Marta Suplicy.
Passou-lhes o rolo compressor do Guia Genial dos Povos e armou até mesmo uma entrada triunfal de Kassab na cerimônia do 32º aniversário do PT. Um mês depois o prefeito aninhou-se com o tucanato.
Consagrou sua fama de articulador com um título raro: passara a perna em Lula, que ficou com a carga de lutar pela eleição de um poste no qual deverá até mesmo atarraxar a lâmpada.
Ao encontrar-se com o ministro Gilmar Mendes para tratar do mensalão, com direito a comentários impróprios sobre juízes do STF, Lula sabia que corria riscos. Confiou no que supunha ser uma relação recíproca de amizade. (Nosso Guia e o ministro têm uma relação de afeto ofídico.) Deu no que deu.
Essa autoconfiança vem de longe, do tempo em que, no meio de uma crise, ao fim de uma reunião com empresários, um deles pediu-lhe um autografo, pois prometera-o a um filho.
Em cinco meses, duas bolas fora, em casos onde prevaleceu o que acreditava ser o seu instinto infalível. No episódio de Kassab, pode ter atrapalhado o próprio partido, nada mais que isso. No de Gilmar Mendes, transbordou, e o encontro dos dois só serviu para criar um clima de feijoada no Supremo Tribunal Federal.
Lula fez seu périplo pelos ministros sem discutir a tática com os réus do mensalão, ou com seus advogados. Quis levar a coisa no peito. A esta altura da vida, não é de se esperar que mude, mas seria o caso de ele próprio se perguntar se não está exagerando. Como ele já disse: “Quando a gente pensa que vira vanguarda, vira mesmo é desastre.”
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