O Tribunal de Contas do Rio de Janeiro não aprovou as contas de 499 cidadãos que ocuparam cargos públicos em seus municípios — quase todos ex-prefeitos e ex-presidentes de Câmaras de Vereadores. E o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Luiz Zveiter, anunciou o óbvio: nenhum deles poderá ser candidato nas eleições de outubro. Todos estarão inelegíveis por oito anos.
A existência desse prazo é curiosa: parece indicar a confiança de que, em apenas oito anos, políticos desonestos ou incompetentes em alto grau aprenderão a governar ou abandonarão o feio costume de meter a mão nas verbas públicas. Com uma pitada de cinismo, é bom não esquecer que a inelegibilidade sempre castiga — mas raramente conserta.
O TRE, obviamente, não se deu ao trabalho de investigar as gestões do bando todo. Confiou na decisão do Tribunal de Contas (TCE) — que, como o nome indica, existe para examinar e aprovar os números da administração pública. E costuma trabalhar direitinho.
Pelo menos em tese, pode-se esperar que os atingidos pela vigilância do Tribunal de Contas aprenderão a dura lição. Ou seja, os ineptos farão cursos de administração pública e os espertalhões, depois de um doloroso exame de consciência, passarão a acreditar que a honestidade é o melhor caminho.
Na prática, sejamos honestos, sem a necessidade de um pingo de cinismo: quem acredita nisso? É bom ouvir um especialista em contas reprovadas. Como o ex-prefeito de Guapimirim Ailton Vivas, do PSL, reprovado pelo TCE nada menos do que seis vezes — indício muito provável de que muita gente em Guapimirim vota de olhos fechados. Disse ele: "Eles não me assustam. O que o tribunal sabe fazer é extorquir os prefeitos."
Pelo visto, não lhe falta coragem. E cinismo, também. De qualquer maneira, seu nome está certamente na lista dos inelegíveis. O próximo capítulo dessa triste novela será escrito pelos partidos. Que critérios usarão para selecionar candidatos realmente merecedores dos votos municipais? Simplesmente escolherão farinha do mesmo saco?
Ou seja, farinha podre?
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