segunda-feira, 26 de março de 2012

Serra vai bem, obrigado


Nem tão de leve que sugira desinteresse, nem tão forte que desate uma reação contrária.
É assim que se comporta o governador José Serra, de São Paulo, em relação ao colega Aécio Neves, de Minas Gerais.
Sonha com ele de vice em sua chapa de candidato à vaga de Lula. Mas se o pressionar muito poderá perdê-lo. E se não o pressionar, também.
Em meados do ano passado, Serra visitou Aécio no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte. Aécio estava embalado para sair candidato pelo PSDB a presidente da República.
A certa altura do encontro, Aécio advertiu Serra: “Você poderá ser o candidato do partido. Só não poderá me derrotar. Se o fizer, não terá os votos de Minas por mais que eu me esforce para ajudá-lo”.
Foi por isso que Serra fez cara de paisagem e engoliu todos os sapos servidos por Aécio. Alguns foram sapos gordos.
Um deles: as recepções festivas oferecidas por Aécio a Lula em Minas.
Outro: a pregação de Aécio contra o predomínio dos paulistas na política nacional.
Mais um: a insinuação de que somente ele, Aécio, atrairia apoios de partidos alinhados com o governo Lula.
Acabou indo pelo ralo a proposta de Aécio para que o PSDB escolhesse seu candidato a presidente por meio de prévias. De público, Serra concordou com a proposta. Na troca de telefonemas com líderes do partido, rejeitou-a.
Também foi pelo ralo o esforço de Aécio para crescer nas pesquisas de intenção de voto. Serra nada teve a ver com isso. Finalmente, Aécio desistiu de ser candidato.
“Vou me dedicar às eleições em Minas”, anunciou no final de dezembro último. E desde então tem descartado a hipótese de ser vice de Serra. Repete que será candidato ao Senado.
Serra dá tempo ao tempo. Lembra do que dizia Ulysses Guimarães, condestável do PMDB e da Nova República que sucedeu ao regime militar: “O segredo da política reside em três coisas: paciência, paciência e paciência”.
Há dois calendários em confronto para a próxima eleição presidencial – o de Lula e o de Serra. E ambos estão certos.
A única maneira que tinha Lula para eleger Dilma Rousseff era antecipar em mais de um ano o início da campanha. Foi o que fez. Dilma jamais disputou uma eleição. Era preciso torná-la conhecida. Sob o disfarce de lançar ou de inaugurar obras, Lula percorre o país com Dilma a tiracolo.
Serra se fingiu de morto para não ter que trombar, primeiro, com Aécio, e depois com Lula e Dilma. Só teria a perder. Se puder não trombará com Lula, o presidente mais popular da História. E evitará trombar com Dilma até o último minuto.
Lula afirmou na semana passada que é capoeirista e que está pronto para a briga. Se depender de Serrinha “paz e amor”, não haverá briga – só confronto de idéias.
Na moita, Serra se esforça por desmanchar a poderosa coligação de partidos montada por Lula para apoiar a candidatura de Dilma. E está se saindo bem.
Foi dado como certo que ele não teria um palanque forte no Rio, o terceiro maior colégio eleitoral do país. Serra negociou com Marina Silva, candidata do PV a presidente, e resgatou a candidatura de Fernando Gabeira ao governo do Rio.
Quer juntar na Bahia o PFL do ex-governador Paulo Souto com o PMDB do ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional. De preferência com Geddel para o governo e Souto para o Senado.
O PSB de São Paulo está com ele e o de Minas com Aécio. É por isso que Serra assimila sem retribuir os golpes que Ciro Gomes lhe aplica. O PSB quer Ciro como candidato ao lugar de Lula.
Caso Lula vete Ciro, no momento o PSB prefere não se juntar ao PT para eleger Dilma, facilitando assim suas mais heterogêneas alianças nos Estados. Foi como procedeu em 2006, negando a Lula seu tempo de  propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.
Se o PSB foi capaz de pensar em si antes de pensar em Lula, quanto mais com Dilma?
De volta a Aécio: chegará a hora certa de Serra abordá-lo sobre a vaga de vice.

Um comentário:

Alberto disse...

A campanha Aécio para presidente venceu mais uma etapa.