(texto publicado na edição de 09/2006 da revista Playboy e republicado no blog)
E no futuro se dirá que a eleição presidencial de 2006 foi decidida antes mesmo de qualquer dos candidatos realizar seu primeiro comício. Tudo bem: havia um candidato em campanha disfarçada há pelo menos seis meses. E ele desfrutava do privilégio de ser ao mesmo tempo candidato e presidente da República. Mas se isso representou alguma vantagem, nem de longe ela foi suficiente para lhe garantir a vitória de véspera.
A reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se deverá a uma rara conjugação de fatores. O mais relevante: a identificação do candidato com os dois terços mais pobres dos brasileiros. Contrariando a escrita, Lula foi um deles que conseguiu chegar lá. E que ao chegar apostou em programas sociais que ajudariam a empurrá-lo uma vez mais rampa acima do Palácio do Planalto.
Foi beneficiado por uma conjuntura econômica internacional favorável. E teve o bom senso de manter a política econômica herdada do governo anterior. O país cresceu a taxas razoáveis. E o dinheiro irrigou o bolso dos que sempre sobraram quando chegava a hora de repartir o bolo. Por que essa gente deixaria de mão quem foi capaz de melhorar sua vida? Por que revogaria o voto que deu há quatro anos?
Enquanto a antiga oposição (PT) aprendeu rapidinho a ser governo, o antigo governo (PSDB-PFL) foi reprovado quando tentou ser oposição. Imaginou que o escândalo do mensalão bastaria para tirar o fôlego de Lula. E ao descobrir que não tirou, temeu a fúria dos chamados movimentos sociais caso tentasse derrubá-lo via impeachment.
De resto, nem por encomenda de Lula seu principal adversário teria sido tão bem escolhido. O PSDB entrou em campo com Geraldo Alckmin, candidato reserva do ex-prefeito José Serra. Lula agradeceu em silêncio. Alckmin de quê mesmo? Fora de São Paulo ele é um ilustre desconhecido. Eleitor não costuma dar bola para quem não conhece. Quando Alckmin (ou melhor: Geraldo) deixar de ser, a eleição já terá acabado.
Um comentário:
O caso do Mensalão ainda será explicado pelos historiadores do futuro. A indiferença popular decorreu de méritos do Lula ou deméritos da oposição tíbia preocupada em botar as barbas de molho? Os dois devem ter contribuído mas em que proporção?
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