Houve um momento, ali pelo meio da tarde de ontem, que apenas seis dos 13 senadores do PSDB permaneciam dispostos a votar contra a prorrogação da cobrança da CPMF até 2011.
Não fosse pela teimosia do líder Arthur Virgílio (AM), o PSDB teria votado em peso com o governo. E se votasse, parte do DEM também votaria. E alguns dos dissidentes da base do governo abdicariam de sua condição de dissidentes.
- Sabe o que é um castelo de cartas? - perguntou-me José Agripino Maia (RN), líder do DEM no Senado, no início da manhã de ontem. "Pois é: se você tirar uma carta, o castelo desaba. Estamos assim".
Valeu-se da mesma imagem o deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente do DEM, em conversa com um amigo na noite da última segunda-feira.
O fim da CPMF, marcado para o próximo dia 31, foi a mais retumbante derrota colhida pelo governo desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez na manhã do dia primeiro de janeiro de 2003. Com rigor, foi a única derrota expressiva.
Ao fim e ao cabo, o governo perdeu para si mesmo - para sua arrogância, sua falta de articulação política e sua pretensão de ganhar sem ceder nada ou muito pouco.
O governo conta com o apoio de 14 partidos. Que no Senado dispõem de 53 votos. Precisava de 49 para vencer. Conseguiu 45, apesar do empenho de todos, rigorosamente todos os governadores.
Seria o caso de se dizer que nunca antes neste país...
Quando anteviu o desastre, tentou fazer em poucas horas o que deveria ter feito há muito tempo - acertar-se com os partidos de sua base e com os da oposição. Não teria sido difícil.
Mas não: procedeu com a desenvoltura de uma tartaruga. E com o excesso de boas maneiras de um macaco.
O que levou Lula a se oferecer para tomar café da manhã com o governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal? E a atravessar Brasília de uma ponta à outra para ir ao encontro dele?
Poderia ter chamado Arruda para tomar café no Palácio da Alvorada. Assim pediria o ritual do cargo. Por meio de um interlocutor comum, poderia ter avaliado antes se Arruda de fato teria como ajudá-lo. Não tinha. Bateu na porta errada.
Quem convenceu Lula da vantagem de despachar uma carta ao presidente do Senado quase no fim da sessão de ontem para avalizar outra, assinada pelos ministros da Fazenda e das Relações Institucionais, onde eles prometiam mais recursos para a Saúde?
Quem duvidaria da palavra dos dois ministros, sendo um deles dono da senha do cofre?
Pois o Senado ignorou as duas cartas.
Presidente da República só deve entrar em campo para bater pênalti. E de preferência contra uma meta sem goleiro. Lula entrou em campo e chutou a bola nas mãos de Virgílio.
Apesar dos erros, é justo reconhecer que o governo só perdeu porque teve pela frente um senador obstinado como o líder do PSDB.
Sozinho, ele valeu mais do que todos os governadores do PSDB - afinal derrotados tanto quanto Lula.
Um comentário:
Estranhamente prevaleceu os interesses do povo. Parece até que houve a intervenção de Papai Noel que deveria chegar em 25/12.
Postar um comentário