quarta-feira, 14 de março de 2012

O Enigma - Veríssimo


O Putin, não sei se já prestaram atenção, tem um andar de malandro. É um jeito de balançar o braço quando caminha que, combinado com um meio sorriso de eterna autossatisfação, lembra um galã de arrabalde desfilando pras moças. Ele pratica artes marciais e gosta de ser fotografado sem camisa e que saibam que é um caçador de ursos, que presumivelmente abraça até a submissão. Dizem que deve seu poder aos podres que sabia de todo o mundo, do tempo em que chefiava o KGB, mas fez sua carreira com grande habilidade política, e acaba de voltar à presidência da Rússia no lugar do seu indicado Medvedev, que o substituiu e de quem foi primeiro-ministro. E que só ficou esquentando a cadeira para a sua volta.

Putin, portanto, é mais um mistério russo. Até hoje o mundo não conseguiu decifrar bem aquela imensa terra de místicos e aristocratas, onde um primitivismo quase bárbaro convivia com uma cultura extraordinária e que nunca se decidia entre ser ocidental ou ser asiática. A própria experiência comunista só enfatizou o enigma. Grande parte da armação teórica da revolução partiu da "intelligentsia" russa, mas não havia lugar mais improvável para uma revolução proletária do que a Rússia, com sua tradição de servos hereditários e submissos e seu feudalismo medieval. O próprio Marx levou um susto. Um dos problemas do Ocidente na sua relação com a União Soviética durante a Guerra Fria era nunca saber se estava tratando com o comunismo soviético ou com o anacronismo russo, passional e imprevisível. Um diplomata americano, na época, resumiu a questão. Disse que o que precisava ser levado em conta no confronto com a União Soviética, antes de diferenças ideológicas e de modelos políticos, era que os russos eram naturalmente ruins. O "Império do Mal", nas palavras do Ronald Reagan, seria do mal mesmo sem o comunismo. De tais simplificações era feita a política externa americana. Quando o comunismo caiu a Rússia adotou o capitalismo selvagem sem nem um período de adaptação. Talvez seja mesmo um caso de caráter nacional.
Especula-se que Putin quer ficar no poder, talvez revezando-se com o parceiro Medvedev até os dois não poderem mais dançar. Mas quem entende a Rússia?

Um comentário:

Petipa disse...

Põe enigma nisso. Um país submetido ao tacão autoritário comunista por quase um século não deveria produzir tantas obras de arte na literatura, na música, na pintura, no balé etc.