BERLIM E HANNOVER — A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, deu nesta segunda-feira uma resposta direta às críticas da presidente Dilma Rousseff, que acusou os países ricos, especialmente europeus e americanos, de estarem provocando um “tsunami monetário” com suas políticas expansionistas. Merkel colocou o dedo no ponto onde o Brasil tem sido mais criticado internacionalmente: o protecionismo.Num discurso diante de Dilma e de uma platéia de empresários na abertura da maior feira de tecnologia do mundo – CeBit – onde o Brasil é o país homenageado — Merkel disse:
— Nós (ela e Dilma) vamos discutir a crise e as preocupações de cada uma. A presidente falou que está preocupada com um “tsunami de liquidez”. Do nosso lado, nós estamos olhando onde estão as medidas protecionistas unilaterais — disse Merkel.
A presidente Dilma Rousseff havia dito mais cedo que o Brasil vai tomar “todas as medidas” para proteger o real dos efeitos da enxurrada de capital provocada pela política expansionista dos países ricos, em particular da Europa e dos Estados Unidos, se eles insistirem neste caminho. Mas descartou a hipótese de adotar quarentena, isto é, o instrumento que exige a permanência mínima de capital no país:
— Quarentena é você que quer fazer…não estou defendendo quarentena, meu querido, isso é uma temeridade — reagiu, quando um jornalista perguntou sobre o instrumento.
— A senhora descarta ? —insistiu o jornalista.
— Tem dó ! — reagiu a presidente.
Dilma, que iniciou nesta segunda uma visita de dois dias à Alemanha – o país que hoje dita as regras na Europa – disse que vai insistir na queixa nos seus encontros com a chanceler alemã Angela Merkel.
—Todo mundo vai tratar de tsunami (monetário) no mundo…eu, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o BIS, que é o Banco de Compensações Internacionais, que mostra que é impossível com US$ 8,8 trilhões e no caso específico da União Europeia, com US$ 1 trilhão, o que acontece ? Acontece que a política monetária expansionista destes países produz um efeito extremamente nocivo, porque desvaloriza de forma artificial as moedas.
A expansão monetárias nos países ricos, disse a presidente, “equivale a uma barreira tarifária”. E provoca dois efeitos : torna os produtos dos países ricos mais competitivos artificialmente, e cria bolha de ativos. A presidente frisou que os próprios organismos internacionais reconhecem que isso. Segundo ela, os ricos não resolvem seus problemas com isso : só ganham tempo.
Em discurso, presidente adota tom diplomático
Em seu discurso, no entanto, Dilma foi diplomática, não mencionou nele a “tsunami monetária”. Na abertura da feira, a presidente brasileira disse que o povo alemão tem espírito empreendedor e criativo, e ressaltou os avanços do Brasil na área de tecnologia e internet, lembrando que o país já é o terceiro mercado de PCs no mundo e o quinto em telefonia celular. Afirmou ainda que a exportação de software movimentou US$ 2,5 bilhões em 2011, dando destaque ao uso de ferramentas de código aberto pelo governo, e mencionou os 41 milhões de usuários de internet banda larga no país, bem como os 12 milhões de assinantes de TV paga, "um aumento de 30% só no ano passado".
— Até dezembro deste ano, através do Plano Nacional de Banda Larga, ativaremos uma rede de 31 mil quilômetros de fibra ótica que cobrirá as necessidades de metade da população - disse a presidente. - E vamos licitar em maio a tecnologia de quarta geração de telefonia móvel (4G), que em 2013 estará nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo. Além disso, cabos submarinos ligarão o Brasil à América do Norte e à África, o que vai baratear o custo da conexão.
De acordo com Dilma, o investimento estrangeiro só faz crescer no Brasil — chegou a US$ 6 bilhões em 2011 — e a relação com a Alemanha é estratégica há muito tempo; uma relação que permitiu ao Brasil avançar industrialmente na segunda metade do século passado. Nesse ponto, ela converge com altos diretores do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, que trabalham com empresas e instituições alemãs para ajudá-las a exportar mais para mercados emergentes, da América Latina ao Sudeste asiático.
— Principalmente as pequenas e médias empresas de tecnologia, para as quais preparamos um banco de dados especial na internet sobre esses mercados e temos mais de 120 câmaras de comércio em 80 países — explica Jurgen Scheller, diretor da Divisão de Comércio Exterior em TI do ministério.
Se para a presidente Dilma o Brasil tem condições de ocupar “uma posição de destaque na tecnologia da informação, como já ocupamos em energia, combustíveis renováveis e agricultura”, os alemães só fazem concordar. Mas destacam, como lembrou Volker Berresheim, diretor da Divisão de Relações Econômicas com Países e Regiões do Ministério das Relações Exteriores alemão, que seus conterrâneos já estão investindo no Brasil há tanto tempo que de vez em quando é preciso lembrar que eles precisam ver seu lado também (outra alusão ao protecionismo nacional). De forma bem-humorada, Berresheim encerrou um encontro com a imprensa com uma comparação que ilustra as boas chances de uma parceria com os brasileiros dar certo:
— Afinal de contas, o alemão mais rico (de longe o mais rico) é também o brasileiro mais rico: Eike Batista — brincou, fazendo alusão à origem alemã do empresário brasileiro (a mãe de Eike nasceu em Hamburgo e ele passou na juventude um bom tempo no país, além de na Suíça e na Bélgica). Eike é o homem mais rico da América do Sul, com fortuna avaliada em mais de US$ 30 bilhões (R$ 54 bilhões), segundo a Forbes.
Dilma critica assessor especial da presidência
A presidente desautorizou seu assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, a falar sobre juros. Ela reagiu duro à declaração de Garcia logo depois de a comitiva presidencial desembarcar na Alemanha, de que haverá redução das taxas de juros. No domingo, Garcia, disse os juros vão cair na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 6 e 7 de março.
— Quem fala sobre juros no meu governo é o Banco Central, Alexandre Tombini. Nem eu nem ninguém tem autorização para falar sobre juros — afirmou a presidente.
(*) André Machado viajou a convite do Consulado Geral da Alemanha no Rio
Um comentário:
As duas tem razão. O problema é chegar a um consenso da quantidade de tempero a colocar no prato econômico
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