quinta-feira, 29 de março de 2012

Demóstenes Pode Cair





O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é acusado de envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira
Foto: Ailton de Freitas / Arquivo O Globo
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é acusado de envolvimento com o contraventor Carlinhos CachoeiraAILTON DE FREITAS / ARQUIVO O GLOBO
BRASÍLIA - Após renunciar à liderança do DEM no Senado nesta terça-feira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi substituído pelo presidente nacional do partido no cargo. O também senador José Agripino (RN), que acumula agora as duas funções, teve reunião com Demóstenes nesta tarde e, após o encontro, lembrou o caso da expulsão do ex-governador José Roberto Arruda para garantir que a legenda é a única que não convive com a falta de ética. Ele disse que oficialmente o partido não discute uma possível expulsão de Demóstenes, mas que se ficar comprovado seu envolvimento em irregularidades no escândalo Carlinhos Cachoeira, isso pode sim vir a ser decidido.
- Se chegar a evidências como no caso do Arruda? O partido não hesitará nem um minuto. Não temos o direito de sacrificar candidaturas como a de Mendocinha, em Recife - disse Agripino, informando que não conversou isso com Demóstenes, mas que ele sabe disso.
Na saída da reunião, Demóstenes não deu entrevistas.
Em carta enviada ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Demóstenes afirma que não pretende voltar a tribuna até conhecer o teor dos autos das investigaçoes da Procuradoria Geral da República (PGR) e Polícia Federal sobre seu suposto envolvimento num esquema junto com o contraventor Carlos Cachoeira. Mas disse que não deixará nada sem resposta. Na carta ele comunica que deixou a liderança do DEM para acompanhar a evolução dos fatos e versões noticiados nos últrimos dias.
Demóstenes afirma, na carta enviada a Sarney, que vem sofrendo nas últimas semanas toda sorte de ataques a sua honra, sem que sejam observadas as garantias constitucionais previstas em qualquer Estado Democrático Direito. "Meu desejo é ocupar a tribuna do Senado tão logo tenha acesso ao conteúdo dos autos que, segundo afirmam, estão em poder do procurador geral da República. Não me escusarei de responder a qualquer questionamento que, por ventura, seja feito pelos sendores e senhoras senadoras. Reafirmo o que disse no plenário: se existe alguma suspeita sobre o meu procedimento, exijo profunda e meticulosa investigação no foro constitucional adequado, qual seja o Supremo Tribunal Federal", disse Demóstenes.
Também nesta terça-feira, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel , encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de investigaçãopara apurar o envolvimento de parlamentares, entre eles o agora ex-líder do DEM, com o contraventor Carlos Augusto Ramos. Carlinhos Cachoeira, como é conhecido, foi preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, em fevereiro, por supostamente chefiar uma quadrilha de exploração de jogos ilegais.
Álvaro Dias admite ida de Demóstenes para Conselho de Ética
Já o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), disse que as denúncias contra Demóstenes são graves e cobrou que a Procuradoria Geral da República mostre os documentos da investigação.
- Não há como negar que se trata de algo muito grave. Devemos requerer esse inquérito para conhecer o seu inteiro teor. Há especulações de que "figurões da República" estariam também envolvidos - disse Álvaro Dias, sem querer dizer quem seriam os "figurões".
O tucano ainda comentou o afastamento de Demóstenes da liderança, que ele considera ter sido a “ação correta”. Álvaro Dias afirmou que já admite apoiar uma pedido de abertura de processo por quebra do decoro parlamentar contra Demóstenes. Dias disse que se a Procuradoria Geral da República enviar as investigações e houver envolvimento de parlamentares, o PSDB vai tomar providências enérgicas e imediatas.
- Conhecendo o teor das investigações e se houver justificativas para tal, se houver envolvimento de parlamentares,eu apoio a ida do caso para o Conselho de Ética. Não podemos usar dois pesos e duas medidas - disse Dias.
Ele criticou o fato de o procurador geral Roberto Gurgel estar segurando as informações, já requeridas por deputados e senadores desde a semana passada.
- O inquérito está trancado a sete chaves desde 2009 e precisamos conhecer o seu teor. Porque não pode ser revelado? Será que tem figurões da República envolvidos e estão sendo protegidos? - criticou o tucano.
O líder do PT na Casa, Walter Pinheiro (BA), disse que as investigações não devem ser feitas pelo Congresso, já que nesse caso se trata de um “crime”.
Demóstenes quer impedir julgamento político
Demóstenes passou a manhã desta terça-feira em reuniões reservadas com líderes da base para tentar impedir um julgamento político no Senado. Ele está apelando especialmente para o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), com quem esteve nesta terça-feira. O encontro de Demóstenes com Renan, pelo menos por enquanto, teve o resultado esperado. O líder peemedebista saiu defendendo que o caso se restrinja ao campo jurídico.
- Eu acho que em havendo investigação dos órgãos de controle, não há necessidade de uma investigação política aqui no Senado - defendeu Renan, que enfrentou um processo de cassação no Senado, e foi absolvido.
Na sexta-feira, o senador democrata chegou a se defender por meio do Twitter. Mas, desde então, não posta mais mensagens, mesmo que não sejam relativas ao caso. Segundo a coluna Panorama Político, de Ilimar Franco, publicada nesta terça-feira no GLOBO, o ex-líder do DEM no Senado foi orientado por seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, a não falar mais com jornalistas.
Reportagem publicada pelo GLOBO na última sexta-feira revela que Gurgel recebeu, em 2009, documentação de outra investigação, precedente à operação Monte Carlo, que aponta a proximidade de Cachoeira com Demóstenes Torres e os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO). A Monte Carlo ainda apontou a relação do contraventor com o deputado Rubens Otoni (PT-GO). Gurgel, no entanto, não deu prosseguimento à denúncia e nem a arquivou. Somente nesta terça-feira, deu sua posição.

  

2 comentários:

Alberto disse...

Pobre Demóstenes. Pensou que políticos não estavam sujeitos à lei.

Osires disse...

E eu que lamentava este senhor não ser candidato a coisa alguma no Estado do Rio de Janeiro para receber o meu voto...