E, para deixar José Serra ainda mais aflito, o Jornal Nacional divulgará, hoje, uma nova pesquisa Ibope sobre intenção de votos para presidente da República.
Da mais recente pesquisa Datafolha, apontando Dilma Rousseff na frente com oito pontos de vantagem, foi dito que não apurou todos os efeitos da entrevista de Serra no Jornal Nacional.
A pesquisa Ibope apurará, sim. Somente ontem terminou de ser aplicada. Serra foi entrevistado na quarta-feira 11. Saiu-se melhor do que Marina Silva e Dilma, também entrevistadas.
Mas se apesar disso o Ibope indicar o aumento da distância entre ele e Dilma? Em seis de agosto, Dilma tinha cinco pontos de vantagem no Ibope.
O único fato político relevante registrado nos últimos 10 dias foi a série de entrevistas dos candidatos nos principais telejornais da Globo. Jamais eles haviam se exibido para tantos milhões de eleitores.
O debate promovido pela Band, por exemplo, alcançou três pontos de audiência. A entrevista de Dilma no Jornal Nacional, 33.
O Datafolha cravou que Dilma subiu cinco pontos e Serra caiu quatro. Se o Ibope mostrar Dilma crescendo e Serra em queda, é razoável concluir que a superexposição de Serra nos telejornais da Globo acabou por lhe fazer mal – muito mal. Resta saber por quê. E por que apesar do nervosismo de Dilma, ela saiu no lucro.
Tenho uma teoria – mas autoridade zero para sustentá-la. Quem tiver autoridade que a descarte ou medite a respeito.
Serra caiu no Datafolha e poderá cair no Ibope simplesmente porque um número cada vez maior de brasileiros passou a identificá-lo como o candidato de oposição a Lula. “Ah, é ele?”.
No caso, não interessa o que ele diga ou faça. Pouco importa que evite se opor a Lula. E menos ainda que Lula não seja Dilma.
O que parecer valer para as pessoas é: esse careca aí, que sorri pouco a ponto de ser advertido pela filha, é o anti-Lula (“o nosso pai”, como preferem os nordestinos). Essa mulher aí meio sem graça é a “mulher de Lula”.
Se a teoria fizer algum sentido, se encontrar um mínimo de respaldo em estudos ou na experiência acumulada por terceiros, há que se imaginar, portanto, o tamanho das dificuldades a serem enfrentadas por Serra com o início, amanhã, do período de 47 dias de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.
O que fazer para brilhar na telinha sem perder votos? E se possível ganhando?
Torcer para que Marina Silva atraia mais votos, provocando assim um eventual segundo turno entre Serra e Dilma? E quem disse que segundo turno é garantia de virada? Geraldo Alckmin beliscou menos votos no segundo turno de 2006 do que no primeiro.
Os fados conspiraram contra Marina no sorteio bancado pela Justiça para estabelecer a ordem de entrada no ar dos candidatos. Com pouco mais de um minuto diário de programa de propaganda eleitoral, Marina ficou ensanduichada entre os candidatos do PCB e do PRTB, partidos nanicos nos quais se presta rala atenção.
Quem sabe se Plínio de Arruda Sampaio, o respeitável candidato octogenário do PSOL, não ganhará alguns votinhos para reforçar as chances do segundo turno?
O tempo de propaganda de Plínio é menor do que o de Marina. Em compensação, Plínio irá ao ar logo depois de Serra. Bobagem! Não haverá segundo turno por causa de Plínio.
Cada eleição tem sua lógica. E o maior desafio de Serra será contrariar a lógica que orienta esta eleição até aqui. Em 1989, os brasileiros votaram em candidatos que eram contra tudo que ali estava. Collor e Lula foram para o segundo turno. Em 1994, votaram em quem lhes deu o Real. Em 1998, em quem lhes garantiu salvar o Real.
Serra tentou em 2002 ser o candidato da mudança com continuidade. Perdeu. Agora, tenta o contrário: ser o candidato da continuidade com mudança. Deverá perder outra vez.
O melhor nem sempre vence. O exercício da democracia nada tem a ver com a escolha dos melhores. Tem a ver com a escolha livre pela maioria.
Isso não serve de consolo para os que perdem, embora possam ser melhores do que seus adversários. Mas é assim que é.
Um comentário:
A análise do Noblat é razoável. Poderia estender-se mais sobre a imensa e sempre crescente taxa de rejeição de Serra - o homem que não ri, uma espécie de Buster Keaton, um contrasenso na política. Pode até continuar a manter posição no eleitorado paulista ou paranaense, bolsões mais educados ou civilizados no cenário brasileiro. Mas, mesmo assim, com coisas do gênero "Estados Unidos do Brasil", como nos brindou recentemente, Serra passa uma imagem muito antipática, com aqueles "erres" paulistanos...Em suma, ele tem de se convencer de que, em nível nacional, "he is a looser" e sair de cena para que entre algum outro que poderia até ser o Aecinho ou alguma figura que possa ainda emergir na oposição ao "petesarneysismo".>
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