Eu Quero Ficar Só ! - Roberto Argento
Aos 25 anos do jogo minha mulher me mostrou o cartão vermelho. Com 48 anos nas costas, decidi pendurar as chuteiras. Mas a decisão durou menos de seis meses e voltei aos campos. O jogo, desta vez, durou menos, recebi o cartão vermelho aos 18 anos. Aí, com 66 anos de idade, tomei a sábia decisão de parar de jogar.
Fui morar sozinho.
Um amigo, também afastado dos campos, me desanimou:
- Nem pense. Coloque uma empregada. Você vai lavar banheiro, cozinha, passar roupa, fazer a comida ? Nem tente !
Não pensei e não tentei.
Uma vizinha me indicou uma moça de 29 anos. Um amigo que jantava na minha casa pelo menos duas vezes por mês observou que se a Carolina (Carolina é nome de empregada ?) tomasse um banho de TV Globo – roupas, cabelo, maquiage – ficava a cara e o corpo da Juliana Paes.
Ficou comigo um ano e meio. Também me deu o cartão vermelho, quer dizer, pediu demissão. Acho que foi por causa de uma observação que fiz sobre o calor. Tinha comprado um aparelho de ar condicionado para meu quarto e a Carolina, com carinha de Juliana Paes, me pediu:
- Puxa, o senhor vai dormir no bem bom... e eu ? Compra um ventilador pra mim.
- Bobagem, Juliana, quer dizer, Carolina, você passa a dormir comigo.
Será que foi esta a causa ?
Não, acho que não, ela não gostava de ar condicionado, queria um ventilador.
Meu amigo, outra vez:
- Cara, você não acha que tá muito velho prá ficar cantando meninas de 29 anos ?
A mesma vizinha fez outra indicação. (Acho que ela tinha uma agência de empregos).
A moça chamava-se Maria (isso, sim, é nome de empregada) tinha recém chegado do Maranhão e eu só entendia as duas últimas palavras de cada frase: Num sabe ?
Maria não sabia cozinhar, num sabe ? Um dia pedi para ela fazer um bolo de aipim e ela grunhiu alguma coisa e entendi que ela não sabia o que era aipim. Lembrei então que lá pelo nordeste aipim era macaxeira. Maria disse que sabia e fez. Quando parti a primeira fatia, parecia que havia cola em vez de aipim, quer dizer, macaxeira.
Ah, Ah ! Agora é a minha vez de mostrar o cartão vermelho !
Fiquei só e assim estou há dois anos.
No começo, foi complicado.
Um dia, despejei o conteúdo de uma sopa em envelope numa panela com um litro de água e acendi o fogo. Fui atender o telefone, era uma namorada de séculos atrás (esta figura literária chama-se hipérbole) e ficamos conversando por muito tempo. Quando voltei à cozinha, havia sopa sobre o fogão, no chão, invadindo o quarto de empregada, ou seja, por todos os lados. Menos na panela.
Em outra ocasião, fui preparar um purê de batata instantâneo. Coloquei leite na panela e peguei uma colher de manteiga. Sacudi a colher para a manteiga se encaminhar para a panela, mas ela – a manteiga, não a colher nem a panela – com medo de se queimar, resistiu, não quis ir. Dei uma sacudidela forte e a manteiga sumiu da colher. Mas não estava na panela. Sumiu, pensei. Escafedeu-se. Não sumiu, encontrei-a apavorada, grudada na porta da geladeira.
Só mais um acontecimento de uma série de inúmeros: Esquentei uma xícara de água no micro ondas, coloquei duas colheres de café solúvel pinguei o adoçante e fui para a sala. Ao primeiro gole, senti um gosto diferente. Confirmei com um segundo gole. Voltei à cozinha e não vi o adoçante. Mas vi o frasco do detergente. Deduzi o óbvio, com a lerdeza justificada para um portador de DNA (Data de Nascimento Antiga), ou seja, que tinha pingado três gotas do detergente. O quê fazer às duas da madrugada ?
Liguei para o meu médico:
- Marcelo, sou eu.
- São duas da madrugada. O quê houve ?
Contei a história.
O Marcelo:
- Você está deprimido de novo ?
- Não, claro que não. Por quê ?
- Então por quê tentou o suicídio ?
Eu:
- Suicídio !!??
- Cara, você pingou três gotas e só tomou dois goles. O que pode acontecer, o que é bom, é você lavar o estômago, imundo de nicotina e alcatrão. Vou te cobrar uma consulta por me ter acordado para esta
babaquice.
Desligou.
Houve outros episódios.
Um dia recebo um desses e-mails chatinhos, cheio de passarinhos cantando, com as letrinhas descendo de forma randômica pela tela do monitor, quase caindo sobre o teclado e dançando abichalhadamente. O assunto era Frases Célebres.
Uma me chamou a atenção: O homem que vive só ou é um Deus ou um animal (Aristósteles).
Não, não aparecia no e-mail, mas o neurônio número 2.371.985.297 saiu do banho e me cochichou: E sua avó, em 1954, com os velhos deitados dela ?
É. Minha avó, italiana, sempre citava um velho deitado: Como diz o velho deitado, antes só do que mal acompanhado.
Não sou deus, não sou animal mas quero ficar só. Não quero empregadas que não têm nome de empregada, nem maranhenses que falam sem dublagem ou tradução simultânea, num sabe ?
Quero ficar só. Só, não, com minhas sopas Maggi, meu purê de batata instantâneo Yoki, meus Nescafés e Nescaus, minha goiabada Fungi, meu requeijão Catupiry, meu arroz de saquinho Tio João, minhas lasanhas Sadia, meu leite integral Parmalat, com meu sal Ita, com meu Açúcar União e, sobretudo, usando o Detergente Minuano só para lavar a louça. Como adoçante, vou ficar com o Assugrin. Só e faturando muito bem com esse tal de merchandising.
Laurinho, Uma Lenda Urbana - Marcelo Virmond
Nesse Rio de Janeiro cheio de assaltos e arrastões ainda há espaço para pequenas tragicomédias urbanas e hoje eu vivi a minha (felizmente mais comédia do que trágica). Moro num apartamento de 2 andares no Jardim Botânico. Hoje minha esposa Paula acordou as 7 da manhã pra fazer uma oração, já que nessa hora estava marcada a cesariana de Laurinha, filha de uma amiga nossa que iria nascer.Ao subir as escadas ouviu um barulho, mas não deu importância, imaginando ser minha sogra acordando. Quando ela foi a cozinha beber água ela viu cascas de banana no chão, fezes e urina. Apavorada, pensando tratar-se de um ladrão, ela dá de cara com um macaco um pouco menor que um chimpanzé em cima da pia do banheiro. Ela corre, se tranca no nosso quarto e me acorda desesperada (Nessas horas é tão ruim ser homem...).Vesti minha roupa de caçar macacos (tênis, jeans e um daqueles casacos de neve que era pra me proteger em caso de um ataque) e perguntei pra minha esposa: "Você vem comigo?"Ela respondeu: "É ruim,hein!".Comecei a explorar o andar de baixo. O bicho havia bebido água das flores do quarto de hóspedes e tinha defecado no banheiro de hóspedes e dentro da bolsa de maquiagem da minha sogra (deve ter um monte de genro me invejando).Antes de subir as escadas pedi reforço ao porteiro (é engraçado como homem nunca é machão o suficiente pra resolver essas coisas sozinho). Segui a trilha de fezes pela escada e abri a porta pro porteiro." Laurinho " (resolvi chamá-lo assim em homenagem á filha da nossa amiga) estava encurralado na área de serviço.Ele entrou no apartamento atraído pelo cacho de bananas que minha sogra (a culpada é sempre a sogra!) havia deixado ali pra madurar. Apesar de só ter comido 1 banana (que ele ainda teve a tranqüilidade de descascar) parecia que ele estava defecando 10 bananas, tamanha era a quantidade de "rastros" que o bicho deixou pela casa.Não satisfeito em usar o banheiro de hóspedes, a área de serviço e a bolsa de maquiagem da minha sogra como privada, "Laurinho" também defecou no varal, inutilizando para sempre algumas cuecas e as calcinhas da minha sogra (Bem feito! Quem mandou deixar a isca pro animal?).Enquanto eu e o porteiro tentávamos convencer o bicho a sair ele se defendia como podia, ou seja, defecou em cima do porteiro. Do lado de fora da janela minha esposa e minha sogra olhavam aterrorizadas para a árvore em frente de onde 5 irmãos de "Laurinho" ameaçavam pular para entrar.Finalmente, nosso herói, o porteiro Rosenildo, consegue, com a ajuda de um providencial cabo de vassoura, enxotar Laurinho pra fora antes que seus irmãos conseguissem entrar.Minha mulher não quer mais comer lá em casa, está com nojo de tudo e diz que o apartamento está com cheiro de macaco. Hoje mesmo eu já liguei encomendando uma tela de proteção.Tive que pedir a faxineira do meu pai emprestada, já que a minha empregada sozinha não iria conseguir dar conta do recado.Quando eu imaginei que o prejuízo já estava todo contabilizado minha empregada me liga avisando que atrás da máquina de lavar roupa tinha uma poça de cocô de macaco. Meu Deus, esse bicho não digere a banana.Não sei se ele entrou na minha casa pra comer ou pra defecar. Minha empregada nem conseguiu almoçar hoje de tanto nojo. Com certeza eu nunca vou esquecer o dia da cesariana da Laurinha, quando eu conheci o "Laurinho".O detalhe é que esse é o ano do macaco. Uma boa dica pra quem gosta de fazer uma "fezinha
Um comentário:
Só para avisar o erro:
"Só e faturando muitp bem com esse tal de merchandising."
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