Rouco na volta aos palanques, ex-presidente critica PSB de Marcio Lacerda
BELO HORIZONTE - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a subir em palanques na noite desta sexta-feira, após quase um ano de tratamento de câncer. Com a voz rouca e alternando a fala com goles de água, ele retomou os discursos, classificados por ele como “dom” e motivo do “maior medo” durante a doença, na campanha do ex-ministro Patrus Ananias (PT) à prefeitura de Belo Horizonte. Lula tenta alavancar a candidatura do petista, que aparece cerca de 20 pontos atrás do prefeito Marcio Lacerda (PSB), e que, por tabela, rivaliza com o senador Aécio Neves (PSDB), potencial concorrente ao Palácio do Planalto em 2014.
Cerca de 5 mil pessoas foram à Praça da Estação, no centro da cidade, para assistir ao retorno de Lula aos palanques. Ele subiu no palco uma hora depois do início do evento e ouviu os discursos do vice de Patrus, Aloísio Vasconcelos (PMDB), do ministro Fernando Pimentel (PT) e de Patrus. Com semblante sério, ele bebia água antes de falar. Acenou ao público e cumprimentou candidatos a prefeituras mineiras, acomodados no palco, mas separados do ex-mandatário por uma grade.
Segundo fontes ligadas ao ex-presidente, a recomendação médica era para que discursasse por apenas cinco minutos. Lula disse que poderia falar pouco, mas se estendeu por 12 minutos e elevou o tom da voz em vários momentos. Começou o discurso pedindo para que as pessoas guardassem faixas e bandeiras para que todos pudessem ver o quanto estava “mais bonito” sem barba, consequência da doença, que atingiu a laringe do ex-presidente.
- Mês que vem faz um ano, dia 27, dia do meu aniversário, que descobri que tinha um câncer. Engraçado que eu aceitava que o câncer podia matar. Mas não conseguia saber como iria viver sem poder fazer discurso. Porque foi um dom que Deus me deu. Acho que é patrimônio que acumulei no PT e no movimento sindical – disse Lula e, depois de seis minutos de discurso, voltou a pedir à equipe água.
Depois de discurso morno de Patrus, sem ataques à Lacerda – segundo ele, Lula o recomendou não responder a provocações de adversários -, coube ao ex-presidente criticar o atual prefeito e falar sobre o rompimento entre PT e PSB. Lula disse ter percebido que “Deus escreve certo por linhas tortas”.
- O PT de Minas estava brigando demais. Tinha gente muito desgostosa. A gente tinha uma aliança que todo mundo entendeu que devíamos fazer aliança. E aí começou a briga. E aliança ou não... Eu recebia telefonema: Lula, pelo amor de Deus, vem a BH ajudar. Falava que o problema era do povo mineiro. Eis que Deus colocou o dedo no lugar certo. Aqueles que o PT ajudou a chegar no poder não querem mais ficar com o PT. Tudo bem. O PT não vai ficar chorando. Porque tem homem da qualidade de Patrus. Não tem de temer adversário.
Lula se referiu a Lacerda como “tocador de obras”. E disse, como contraponto, que Patrus se preocupava com os problemas sociais, mas também sabia tocar obras.
- Tem muita gente fala “sou tocador de obras”. “Sei fazer ponte, viaduto”. Maravilhoso. Isso a gente aprende na universidade. Mas muito melhor é prefeito que, além de fazer obra, sabe cuidar do povo - afirmou Lula, acrescentando que pretende fazer um segundo comício na capital mineira.
No solo do senador Aécio Neves, fez uma provocação ao sucessor e afilhado político do tucano, o governador Antonio Anastasia (PSDB):
- Se o Anastasia pudesse falar, diria que o estado de Minas está quebrado.
Vaiado por parte dos militantes petistas, Pimentel discursou antes de Lula e relacionou a candidatura de Patrus à presidente Dilma Rousseff (PT), dizendo que ela ligou, mandando seu apoio ao ex-ministro. Pimentel ganhou a antipatia de parte de seus companheiros depois de apoiar Lacerda em 2008, de braços dados com Aécio.
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