Há muito tempo não aparecia uma briga tão interessante como a da Vale com o comissariado petista. A mineradora é a segunda maior empresa do país, emprega 53 mil pessoas e em 2008 lucrou R$ 21,3 bilhões. Seu negócio é vender minério e a briga destina-se a decidir quem manda nela.
A Vale foi privatizada em 1997. Num lance exemplar da privataria tucana, o dinheiro da Viúva continua lá, mas a senhora não manda.
Somando-se as participações de seus fundos de pensão (Previ e Funcef) à do velho e bom BNDES ela teria votos suficientes para mandar na empresa, caso se tratasse de uma padaria. Um acordo de acionistas entregou o leme da Vale ao Bradesco, que tem 21% do capital votante.
Foi do Bradesco que saiu o atual presidente da empresa, Roger Agnelli, em cujo mandarinato dobrou-se a produção e quintoplicou-se o lucro.
Apesar desses resultados fantásticos, a Vale carrega a urucubaca de exportar minério e importar navio. A empresa está fechando um negócio de US$ 1 bilhão com a indústria coreana, mas quem conhece as mumunhas do cartel naval brasileiro acha que ela faz muito bem.
Lula e Agnelli estabeleceram uma relação afetuosa. O empresário entrou na vaquinha que pagou a reforma do Alvorada, recrutou diretores no BNDES e tornou-se figura fácil nas celebrações do Planalto.
Esqueceu-se que Nosso Guia é um urso devorador de donos.
Em dezembro de 2008, num episódio inesquecível, Agnelli propôs o congelamento de um pedaço da legislação trabalhista ("medidas de exceção") para conjurar a crise. Em seguida a Vale iniciou uma política de demissões que já desempregou mais de duas mil pessoas.Lula reclamou das medidas, contrariado porque não o avisaram.
Olhando-se a crise pelo retrovisor, fica entedido que a diretoria da Vale apavorou-se.
Assim como sucedeu com as empresas de telefonia, os comissários dos fundos de pensão começaram a se desenteder com os controladores da empresa. Como o Bradesco não é nenhum Daniel Dantas, a briga será boa.
Ela melhorou com a entrada em cena de um novo ator, o magnata Elke Batista.
Batista e Agnelli são empresários-celebridade. Em uma semana o presidente da Vale fala mais que Augusto Trajno de Azevedo Antunes, o grande potentado do minério brasileiro, em todos os seus 90 anos de vida. Elke Batista, o fulgurante bilionário do conglomerado X, faz força para ser Warren Buffett, mas a cada dia parece-se mais com Donald Trump. Ele quer comprar uma parte das ações do Bradesco, senão todas. Numa trapaça da História, Eike é filho do grão-duque da Vale estatal, o engenheiro Eliezer Batista.
Brigas desse tipo estimulam uma tendência para se tomar partido logo que o jogo começa. É muito melhor acompanhá-las dando razão aos dois lados. A Viúva tem as ações e não manda ? Os fundos de pensão querem mandar para mensalar a Vale ? Eike Batista sentado no conselho da empresa terá mais a oferecer que os atuais mandarins ? Ele viria a ser a esperada figura do bilionário-companheiro do PT ? Se a Vale despejar dinheiro em projetos industriais brasileiros fará bem ao país ou à megalomania dos sábios do Planalto ?
Uma coisa é certa: a permanência ou a saída de Agnelli na presidência da Vale é uma irrelevância diante da verdadeira briga, pelo controle da segunda empresa do país. A primeira é a Petrobras e já está dominada.
2 comentários:
Torcemos para que a a Vale não acabe como a Petrobrás está acabando.
Vamos por partes. É verdade que os fundos de pensão e o BNDES detem a maioria das ações. Também é verdade que os 21% das ações detidas pelo BRADESCO é um mega investimento para os padrões do empresariado nacional. Ninguém botaria este dinheiro se não tivesse o controle administrativo da Cia. A administração da Vale é um sucesso sob todos os aspectos técnicos contemplados pela gestão moderna. Qualquer modificação hoje no comando, seria uma temeridade operacional colocando em risco os acionistas da Vale aqui e no estrangeiro além de ser uma quebra de contrato ao nível do que fez o Evo com a Petrobrás ao tomar as refinarias na Bolívia. O mais estranho é que o Sr Eike Batista certamente não comprará as ações em poder do Bradesco pois não possui recursos para tanto e se assumir o comando estará montado nas ações do governo sendo assim mero funcionário do Palácio do Planalto.
O descrédito do Brasil diante da comunidade internacional seria tanto que os investimentos externos fugiriam de nossas plagas fazendo que a economia entrasse numa recessão autóctone onde ao invés de importar dos ricos estaríamos exportando para nossos vizinhos uma recessão de nossa lavra.
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