Indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidata do PT à sua sucessão em 2010, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, conversou com o repórter Jorge Bastos Moreno, em entrevista exclusiva que O GLOBO publica neste domingo. Como o próprio Moreno frisa, o que se seguiu não foi uma entrevista convencional do entrevistador com o entrevistado, mas o reencontro da fonte com o repórter, sobreviventes de doenças graves, diagnosticadas na mesma data. O encontro ocorreu às vésperas do anúncio oficial da cura da ministra. Foi nesse clima de vencedora que ela recebeu o repórter para um café da manhã, que por pouco não se estendeu em almoço.
Convencida de que o interlocutor entendia perfeitamente as sensações reveladas por alguém que superou a doença, Dilma jogou a agenda para os ares e passou quase uma manhã inteira falando da sua nova visão sobre a vida que quase perdeu. "Hoje percebo a intensidade da tarde. Observo atentamente o que o vento faz com as folhas das árvores, sinto o perfume das flores e o cheiro da terra".
Como será que a pessoa mais poderosa do governo, candidata escolhida pelo presidente da República, recebeu a notícia de que sua vida estava por um fio? Com o desdém dos imprescindíveis, naturalmente: "O diagnóstico está errado. É apenas um carocinho que logo vai desaparecer".
Quando a ficha finalmente caiu, Dilma descobriu que sua vida valia tanto quanto a dos funcionários que lhe servem e que o poder não imuniza ninguém contra doenças. Por tudo isso, ver a ministra transformar seu gabinete em um verdadeiro sarau não deve causar estranheza a ninguém. E foi dessa forma, totalmente largada em uma poltrona, que ela abriu a voz e a alma cantando músicas - algumas por inteiro - de Chico Buarque, Noel Rosa, Pixinguinha, Gilberto Gil e Paulo Vanzolini, entre outros.
E foi cantando esses poetas da MPB que ela revelou que no peito de uma candidata à Presidência da República também bate um coração. Apaixonado? Por quem? Esse é o mistério que a campanha eleitoral certamente não vai revelar - uma pena para um país que nunca teve um primeiro-damo.
A seguir, confira um trecho da entrevista e ouça Dilma falando ainda de novelas, literatura e ópera e sobre o pré-sal:
A senhora está namorando? Está apaixonada?
DILMA ROUSSEFF: Infelizmente não. Agora, acredito que a paixão é, sem sombra de dúvida, um elemento importantíssimo na vida das pessoas. Por quê? A paixão faz com que você saia de dentro de si. Ou até, pelo contrário, faz com que você entre em si mesmo, mas, de qualquer jeito, entrando ou se expandindo para o mundo, ela cumpre um papel de nos rejuvenescer. Quando vejo uma pessoa apaixonada, acho que ela brilha. Você pode olhar. Seus amigos ou suas amigas, quando estão apaixonados, eles brilham. O que acho que a paixão faz com cada um de nós é o seguinte: você acha que tem uma coisa que ninguém mais tem. Você acredita que tem um bem que ninguém mais tem. De uma certa forma, você tem mesmo. É essa imensa alegria, é essa alegria de viver que o fato de gostar de alguém dá para a pessoa. Acho que, sempre que você fizer alguma coisa com paixão - a paixão no bom sentido, porque tem as doentias também -, você faz se empenhando todo. Acho que é único jeito de se fazer bem uma coisa. Acho que todos os bons políticos, os bons médicos, os bons profissionais, têm de gostar do que fazem.
A senhora diz que não tem namorado. Convive bem com essa solidão?
DILMA: Ah, convivo bem com a solidão. Convivo muito bem. Acho que, com o passar do tempo, a solidão é uma coisa assim muito... É uma forma que você tem de fazer uma avaliação.
Talvez a senhora não sinta por causa da sua...
DILMA: Mas a solidão não é isso. A solidão é o fato de você ter - porque todo mundo tem de ter, nem que seja antes de dormir - um momento só seu, no seu fim de semana, numa hora final, numa hora em que você vai ler seu livro, escutar suas músicas, ou assistir a seus filmes na televisão, ou qualquer outra coisa de que você mais gostar. E esse fato de você conviver bem consigo mesmo é que acho que é solidão. Não acho que a solidão é aquele negócio que a pessoa se enfurna, fica sozinha feito uma eremita em cima de um morro. Não é isso! É o bom convívio consigo mesmo.
Convencida de que o interlocutor entendia perfeitamente as sensações reveladas por alguém que superou a doença, Dilma jogou a agenda para os ares e passou quase uma manhã inteira falando da sua nova visão sobre a vida que quase perdeu. "Hoje percebo a intensidade da tarde. Observo atentamente o que o vento faz com as folhas das árvores, sinto o perfume das flores e o cheiro da terra".
Como será que a pessoa mais poderosa do governo, candidata escolhida pelo presidente da República, recebeu a notícia de que sua vida estava por um fio? Com o desdém dos imprescindíveis, naturalmente: "O diagnóstico está errado. É apenas um carocinho que logo vai desaparecer".
Quando a ficha finalmente caiu, Dilma descobriu que sua vida valia tanto quanto a dos funcionários que lhe servem e que o poder não imuniza ninguém contra doenças. Por tudo isso, ver a ministra transformar seu gabinete em um verdadeiro sarau não deve causar estranheza a ninguém. E foi dessa forma, totalmente largada em uma poltrona, que ela abriu a voz e a alma cantando músicas - algumas por inteiro - de Chico Buarque, Noel Rosa, Pixinguinha, Gilberto Gil e Paulo Vanzolini, entre outros.
E foi cantando esses poetas da MPB que ela revelou que no peito de uma candidata à Presidência da República também bate um coração. Apaixonado? Por quem? Esse é o mistério que a campanha eleitoral certamente não vai revelar - uma pena para um país que nunca teve um primeiro-damo.
A seguir, confira um trecho da entrevista e ouça Dilma falando ainda de novelas, literatura e ópera e sobre o pré-sal:
A senhora está namorando? Está apaixonada?
DILMA ROUSSEFF: Infelizmente não. Agora, acredito que a paixão é, sem sombra de dúvida, um elemento importantíssimo na vida das pessoas. Por quê? A paixão faz com que você saia de dentro de si. Ou até, pelo contrário, faz com que você entre em si mesmo, mas, de qualquer jeito, entrando ou se expandindo para o mundo, ela cumpre um papel de nos rejuvenescer. Quando vejo uma pessoa apaixonada, acho que ela brilha. Você pode olhar. Seus amigos ou suas amigas, quando estão apaixonados, eles brilham. O que acho que a paixão faz com cada um de nós é o seguinte: você acha que tem uma coisa que ninguém mais tem. Você acredita que tem um bem que ninguém mais tem. De uma certa forma, você tem mesmo. É essa imensa alegria, é essa alegria de viver que o fato de gostar de alguém dá para a pessoa. Acho que, sempre que você fizer alguma coisa com paixão - a paixão no bom sentido, porque tem as doentias também -, você faz se empenhando todo. Acho que é único jeito de se fazer bem uma coisa. Acho que todos os bons políticos, os bons médicos, os bons profissionais, têm de gostar do que fazem.
A senhora diz que não tem namorado. Convive bem com essa solidão?
DILMA: Ah, convivo bem com a solidão. Convivo muito bem. Acho que, com o passar do tempo, a solidão é uma coisa assim muito... É uma forma que você tem de fazer uma avaliação.
Talvez a senhora não sinta por causa da sua...
DILMA: Mas a solidão não é isso. A solidão é o fato de você ter - porque todo mundo tem de ter, nem que seja antes de dormir - um momento só seu, no seu fim de semana, numa hora final, numa hora em que você vai ler seu livro, escutar suas músicas, ou assistir a seus filmes na televisão, ou qualquer outra coisa de que você mais gostar. E esse fato de você conviver bem consigo mesmo é que acho que é solidão. Não acho que a solidão é aquele negócio que a pessoa se enfurna, fica sozinha feito uma eremita em cima de um morro. Não é isso! É o bom convívio consigo mesmo.
2 comentários:
Agora, pra ela ficar no perfeita como ser humano, só falta ela viver seis meses com a minha aposentadoria do INSS.
Esta novela só poderia ser produzida pela GLOBO. a "marquetização"(marketing) dos sentimentos humanos é uma arma política poderosa.
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