quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Quem Tem Mais Influência no Governo ?


Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostra que entre os 100 parlamentares mais influentes do Congresso, 70 são da base aliada e apenas 30 são da oposição. Uma proporção que, segundo o coordenador da pesquisa, o analista político Antônio Augusto de Queiroz, nunca foi tão grande no governo Lula. Segundo Queiroz, não é apenas o fato de a base ser bem maior do que a oposição - 10 das 14 legendas listadas pelo Diap - que faz de seus parlamentares maioria entre os mais influentes. A própria forma de atuação da oposição, hoje formada apenas por PSDB, DEM, PPS e PSOL, é que a fez encolher na lista. O analista político lembra que nos primeiros anos do governo Lula, a relação base-oposição era bem menor do que a atual.
- Nos primeiros quatro anos do Lula, ela se pautava pela ética da responsabilidade. Ou seja, aquilo que era de interesse do governo e havia coincidência de agenda com a oposição, era apoiado e eles buscavam aperfeiçoar. Nessa condição, foram aprovadas a Reforma Judiciária, Fundeb, Lei de Falências - explica Queiroz.
- Na atual legislatura, ela mudou a sua forma de fazer oposição. Passou a ser a ética da convicção. O que for de interesse do governo não é de meu interesse, somos adversários e não é bom. E naturalmente quando você deixa de tratar tematicamente a matéria e analisa o mérito, você se concentra em torno de menos pessoas. O PSDB, por exemplo, tem 14 senadores, mas a oposição se limita a três, o líder Arthur Virgílio (AM), o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), e o Tasso Jereissatti (CE). No DEM, você tem o Agripino Maia (RN), o Demóstenes Torres (GO) e o Marco Maciel (PE), que é um referência, um estudioso e sempre vai opinar sobre temas recorrentes. Fora isso, os outros desapareceram.
A concentração da oposição explica também o número inferior de parlamentares considerados influentes no Congresso. São 13 do DEM e 13 do PSDB, os dois principais partidos, contra 16 do PMDB e 25 do PT, o partido com o maior número de parlamentares influentes. A legenda do presidente Lula, lembra Queiroz, sempre teve participação significativa na lista pelo seu método de descentralizar a atuação partidária.
- Embora o PT tenha sido um partido de oposição muito dura, ele estratificava essa oposição. Tinha um sujeito na área de educação, outro na de previdência, na área ambiental, tributária. São diversos interlocutores. E ninguém entra na seara do outro. (Hoje) se o tema é relação do trabalho, quem fala é o Vicentinho (SP). Se é tributária, é o Palocci (SP). Isso dá maior capilaridade e mais oportunidade aos parlamentares de se manifestarem.
Na lista dos 100 mais, alguns dados chamam a atenção como o percentual maior de senadores em relação aos deputados, o maior número de parlamentares do Sudeste, embora não seja a região que mais cede políticos para o Congresso, e o baixo número de mulheres na lista: apenas cinco.
- A questão do Sudeste é um dado interessante. Mostra que, no final, quando vai se checar quem efetivamente decide, percebe-se que as regiões ricas tem maior participação na elite do Congresso, além de estados ricos de regiões pobres.
Entre os 100 mais, 36 parlamentares são do Sudeste, contra 23 do Nordeste, 21 do Sul, 10 do Centro-Oeste e 10 da região Norte. São Paulo é o estado com o maior número de políticos na lista, 21. Logo em seguida vêm Rio Grande do Sul (11), Pernambuco (9), Rio de Janeiro (8) e Paraná (6). Mato Grosso, Rondônia, Sergipe e Paraíba não têm políticos entre os mais influentes do Congresso.
O Senado é a Casa que tem proporcionalmente mais parlamentares influentes. São 29 dos 81 senadores, ou 35,8% do total. Os 69 deputados da lista representam apenas 13,45% da Casa.
- Vários aspectos justificam isso. Os senadores, em geral, tem maior idade, já foram deputados, governadores, ou seja, são pessoas de maior experiência e o fato de ser uma Casa composta por pessoas com mais experiência favorece. O mandato também é maior.
Sobre a participação das parlamentares, Queiroz acredita que com as mudanças propostas pela reforma eleitoral, a participação das mulheres na lista pode crescer nos próximos anos. A reforma prevê 5% dos recursos para a divulgação das candidatas e 10% do horário eleitoral reservado para elas. Hoje, apenas Marina Silva (PV), Rita Camata (PMDB), a líder do governo Ideli Salvati (PT), Luiza Erundina (PSB) e Katia Abreu (DEM) fazem parte da lista. Dos principais cargos no Congresso entre lideranças e presidências das comissões mais importantes, apenas Ideli é líder no Senado.
- Tanto na composição geral quanto na participação das mais influentes, a mulher não tem tido a mesma expressão que tem tido na sociedade. Isso é produto da ausência de estímulo e condições para que pudesse disputar em melhores condições as eleições. E a reforma deu um passo tímido, mas importante para elas.
Dois parlamentares presidenciáveis, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e a senadora Marina Silva (PT-AC), aparecem na lista. Marina foi incluída por ser uma referência na área ambiental e um parlamentar com excelente trânsito no Congresso a ponto de mudar de partido sem que o PT pedisse o seu mandato.
"- Ela é uma formadora de opinião, goza de grande credibilidade e respeito de todos os parlamentares - explica Queiroz.
Já Ciro Gomes é tido como um especialista nas áreas tributária e financeira.
- Além disso, é um dos principais operadores políticos do PSB, sendo, portanto, um formador de opinião no Congresso. Quando o partido é chamado a opinar é ele que vai ser ouvido. Daí a sua influência.
O coordenador da pesquisa do Diap diz que não é surpresa a inclusão de Ciro e de Marina na lista. Mas isso dificilmente resultará em facilidades na formação de alianças para uma possível campanha.
- O fato de o político ter alguma liderança e credibilidade não assegura automaticamente uma política de aliança mais abrangente. Ela (a aliança) é um processo de troca. Os partidos cedem o seu tempo na TV às lideranças em troca de espaço no futuro governo.

Um comentário:

Alberto del Castillo disse...

A análise do Diap é interessante e reflete a tendência atual de avaliarmos fenômenos sociais em função dos nichos onde se manifestam e não buscando suas causas geradoras.
Em um país onde os partidos pouco significam, atribuir a liderança de parlamentares a causas provenientes de sua filiação partidária ou adesão ao governo é um exercício puramente estatístico.
Para buscarmos as verdadeiras causas geradoras desta influência deveriam ser avaliadas a personalidade, postura ética, atuação política e propostas apresentadas pelos parlamentares.