quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O País do R$ 1,99

A classe média parou de crescer e até encolheu em 2008, após três anos de expansão. A conclusão é de um estudo do economista Waldir Quadros, da Unicamp, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Como mostra reportagem de Cássia Almeida, publicada na edição desta terça-feira do Globo, a alta classe média, com renda per capita a partir de R$ 3.177 e que reúne, entre outros, professores universitários, médicos, arquitetos, caiu de 5,7% para 5,1% entre os brasileiros ocupados com renda. A média classe média, com renda entre R$ 1.588 e R$ 3.177, e formada por técnicos e professores do ensino médio, por exemplo, recuou de 9,6% para 9,2%.
O estudo mostra ainda que a baixa classe média dos professores primários, balconistas e auxiliares de escritório, com renda entre R$ 635 e R$ 1.588, caiu de 30,6% para 29,8%. A exceção, revela o estudo, é a massa trabalhadora, que ganha até R$ 635 e avançou de 34,3% para 35%.
- Temos uma economia de baixo conteúdo tecnológico, que cria empregos de baixa remuneração - diz Quadros, acrescentando que, com o aumento da classe média baixa, o que temos é o aquecimento do consumo de produtos de baixo valor.
- O Brasil virou o país do R$ 1,99 - afirmou o professor da Unicamp.
Para Quadros, a baixa performance do restante da classe média estaria relacionada aos juros elevados e ao real muito valorizado, o que faz os salários serem muito baixos no país.
- Para que alguém vai estudar para ganhar R$ 3 mil por mês? Isso até inibe o aumento da formação da mão de obra. Esse baixo dinamismo das camadas mais bem situadas limita a mobilidade social.
Segundo Quadros, a Pnad do ano passado mostrou que caiu a proporção de ocupações mais bem remuneradas, dando lugar a empregos com salários menores.
Já a fração de miseráveis, que recebiam até R$ 317 no ano passado, vem caindo consistentemente, como mostra o estudo de Quadros e de todos os economistas que se debruçam sobre os dados de pobreza.

Um comentário:

Alberto del Castillo disse...

Gostaria de ver estatísticas precisas que indicassem a mobilidade entre as várias faixas de renda e a expansão e contração dos valores de referência. As informações parciais e superficiais não indicam uma imagem realista da situação. Na maioria dos casos, estes levantamentos são como pesquisas eleitorais dirigidas para realçar a posição de um candidato ou um ponto de vista específico.