sábado, 22 de novembro de 2008

Desonestos Anônimos - (final) - Álvaro Corrêa de Oliveira

A história da humanidade é uma seqüência aborrecida de ascensão e queda de impérios, com muito sangue derramado. Uma repetição entediante e macabra.
Não serei original afirmando que o mundo só poderá se tornar mais justo, mais humano, mais amável e mais solidário, a partir de uma mudança de atitude pessoal. Jesus, Maomé, Buda, Gandhi, Luther King, para citar apenas alguns, morreram na defesa dessa idéia.
Que tal lembrar da velha e boa coerência? Que tal assumir nossa falta de honestidade? À semelhança dos Alcoólatras Anônimos e outros adictos, seria viável criarmos grupos de Desonestos Anônimos? Acho um tanto utópico. Perderíamos muito tempo para compreender e admitir nossa dependência de forma coletiva.
Mais direto e eficaz será, primeiro, abrirmos o dicionário e procurarmos a palavra HONESTIDADE?
“Qualidade ou caráter de honesto; honradez; dignidade; probidade; decoro; decência”.
Revigorado o sentido da honestidade, podemos então nos olhar no espelho, todas as manhãs e, olhos nos olhos, afirmar, talvez ingenuamente, mas com muita convicção:
- Sou desonesto! Mas nas próximas 24 horas tentarei ser honesto. Pagarei salários dignos para meus empregados, quer na empresa, quer em casa. Como empregado, farei jus ao meu salário, trabalhando com diligência e competência, procurando me aprimorar no que faço. Conduzirei meu veículo com responsabilidade, cumprindo as normas de trânsito, quer na cidade, quer nas estradas. Vou parar de reclamar contra a violência e contra a inoperância da polícia porque também vou parar de consumir drogas. Não comprarei ou usarei produtos piratas nem permitirei que meus filhos o façam. Tratarei meus filhos com respeito para que eles cresçam respeitando as pessoas, qualquer que seja sua crença religiosa ou seu ateísmo, sua cor, seu sexo, sua idade, sua ideologia política. Estarei vigilante na educação dos meus filhos para que se tornem cidadãos dignos e decentes. Não caminharei nas ciclovias, para não atrapalhar os ciclistas, nem pedalarei nas vias de lazer para pedestres, colocando em risco a vida de crianças e adultos. Não serei omisso com relação ao problema da dengue. Não subornarei qualquer pessoa, no exercício do seu trabalho, para obter vantagens pessoais. Tentarei não cometer pequenos delitos como danificar ou poluir lugares públicos ou, ainda, as áreas comuns da minha comunidade, contribuindo assim para um meio ambiente saudável. Em vez de ficar reclamando do governo, procurarei ser mais consciente na hora de votar e não me deixarei levar por promessas grosseiramente mentirosas ou por interesses subjetivos. Exercerei melhor meu direito de cidadão e cobrarei, à exaustão, dos meus candidatos, vitoriosos ou não, procedimentos compatíveis com a sua condição de políticos, que têm de estar vocacionados para o desenvolvimento integrado da sociedade e o aprimoramento das suas instituições. Não usarei de quaisquer meios ilícitos ou imorais para vencer, seja na vida profissional privada, seja na política, seja nas entidades a que estou vinculado. Aceitarei minhas derrotas como um estímulo para melhorar meu desempenho insatisfatório e não utilizarei artifícios escusos para esconder minhas falhas e meus fracassos, ainda que esteja numa mera disputa esportiva entre amigos. Não sentirei inveja dos que estão com uma qualidade de vida melhor que a minha. Provavelmente eles fizeram por merecer isso. Não furarei filas nem aceitarei que furem, por dinheiro ou amizade. Não mentirei para prejudicar quem quer que seja nem assediarei moralmente as pessoas do meu entorno. Não me prevalecerei de eventuais posições de destaque que ocupe, praticando abuso de poder. No exercício da função pública serei gentil com as pessoas, especialmente com os pobres e culturalmente limitados, mas serei implacável no cumprimento das leis, não privilegiando ninguém, seja qual for sua condição sócio/política/financeira. Não sonegarei e não participarei de armações para desvio de dinheiro público. Não roubarei nada, não importa o valor, mesmo que seja um lápis da empresa ou uma esferográfica da casa lotérica. Não desviarei verbas públicas e denunciarei a sua prática. Como político, não trocarei meu voto por cargos ou dinheiro e denunciarei quem o fizer. Não tolerarei a corrupção e lutarei contra ela com destemor e otimismo. Não discriminarei sexo, cor, religião, condição sócio-econômica e opiniões políticas (desde que não atentem contra a minha dignidade).
Sou desonesto! Mas nas próximas 24 horas...

Um comentário:

Anônimo disse...

Reafirmo que o texto do Álvaro Corrêa de Oliveira é muito bom e verdadeiro.
Apenas é infelizmente utópico.Assim como no AA, devemos evitar a primeira desonestidade.
Só por hoje.
E quem nunca praticou uma desonestidade, que atire a primeira pedra.
Vai sobrar pedra.