terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Braços Direitos, por Elton Simões



Construir e proteger uma instituição exclusivamente com base na virtude individual de seus agentes parece ser tarefa impossível. Seres humanos são falíveis e suscetíveis a escolhas imperfeitas, em especial quando essas escolhas afetam os interesses de quem escolhe.
O aparecimento recorrente e abundante de chefes que se dizem traídos por seus braços direitos parece ser uma indicação clara de que a virtude individual, embora desejável, não pode ser dada como garantia da qualidade das ações dos agentes de qualquer instituição.
Nem mesmo a amputação de braços direitos supostamente traidores serve como garantia de melhora no futuro.
Instituições devem ser protegidas através de mecanismos preventivos. Entre esses mecanismos, o mais importante parece ser o da identificação e eliminação de possíveis conflitos de interesse que possam impactar ou influenciar as decisões dos agentes de cada instituição.
Não existe grande discordância em relação ao que constitui um conflito de interesse: é o conjunto de condições nas quais o julgamento de um profissional a respeito de um interesse primário tende a ser influenciado indevidamente por um interesse secundário.
A ausência de discordância na definição, entretanto, apenas exaspera as diferenças na intensidade e importância que cada instituição, país, sociedade ou cultura, atribui aos conflitos de interesse.
De maneira geral, quanto mais uma instituição investe na eliminação dos conflitos de interesse dos seus agentes, mais eficiente ela será.
Conflitos de interesses são falhas éticas potenciais em estado bruto. Criam condições para que decisões dos agentes de uma instituição sejam contaminadas por interesses indevidos.
São os conflitos de interesse que colocam os agentes em uma encruzilhada moral na qual a probabilidade de desvio ético aumenta.
São eles também que impactam a credibilidade das instituições. Colocam sempre em questão a imparcialidade de cada decisão tomada. Tolerar conflitos de interesse é aceitar que a credibilidade institucional seja roída e carcomida pela descrença.
Criar mecanismos institucionais que evitem conflitos de interesse é o mesmo que prevenir desvios éticos.
É poupar os chefes de facadas nas costas (existentes ou fictícias), ou decepções (falsas ou verdadeiras) com seus subordinados.
É evitar que se empilhem braços direitos decepados que, nos dias de hoje, parecem infinitos em número.

Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). E-mail: esimoes@uvic.ca . Escreve aqui às segundas-feiras. 

Um comentário:

AAreal disse...

Braço direito não trai.
Cúmplice trai.