Abismo fiscal: Obama diz que paciência dos americanos está no limite
- Presidente americano tenta arrancar acordo com republicanos ou então votar seu plano emergencial
- Proposta prorroga alíquotas menores de imposto, mantém auxílio-desemprego e adia cortes de gastos
WASHINGTON — Alertando que a paciência dos americanos está no limite, o presidente Barack Obama tentou nesta sexta-feira uma última cartada para forçar um acordo com o Partido Republicano e evitar que a economia dos EUA mergulhe no chamado abismo fiscal. Em encontro de 1h10 na Casa Branca com os líderes governistas e oposicionistas, Obama insistiu que a oposição na Câmara e no Senado endosse seu plano emergencial, que prorroga alíquotas mais baixas do imposto recolhido por americanos e firmas com renda até US$ 250 mil anuais, estende o auxílio-desemprego a dois milhões de pessoas e adia os cortes automáticos de gastos até que uma lei fiscal mais ampla seja negociada entre as partes.
O presidente deixou aberta a possibilidade de um acordo ser costurado a partir de sua proposta, mas, como pressão, pediu que, caso o consenso não seja possível, os republicanos permitam a votação do seu plano nas duas Casas sem manobras regimentais e com liberação das bancadas.
Abismo fiscal é a expressão cunhada por economistas para designar a combinação de aumento de impostos, fim de benefícios e cortes automáticos de despesas correntes e de defesa que passará a vigorar em 1º de janeiro, caso nova legislação não seja aprovada. O prazo final para uma solução é 31 de dezembro. Um fracasso retirará US$ 600 bilhões da economia americana, que poderá entrar em recessão no primeiro semestre.
Em declaração após a reunião, Obama disse que estava modestamente otimista com um acordo e alertou que cumprir o prazo de 31 de dezembro é o mínimo que os políticos em Washington podem fazer. Ele afirmou ainda que continua comprometido com um acordo fiscal amplo de longo prazo:
— A hora para ação imediata é esta. Se os membros do Congresso quiserem votar não (no seu plano), eles podem, mas deixemos que todos votem (...) O povo americano está assistindo ao que fazemos aqui. Obviamente, sua paciência já está no limite. É de novo um “déja vú”. E as pessoas não terão mais paciência para uma ferida politicamente auto-provocada na nossa economia.
Com o movimento, Obama tenta encurralar os republicanos, que poderão ser acusados de intransigência e responsabilizados por impedir a apreciação do plano emergencial da Casa Branca e jogar o país no abismo. O teto de US$ 250 mil proposto por Obama desde a campanha eleitoral mantém inalterada a carga tributária para 98% dos americanos.
Desde a reeleição, e diante de pesquisas que apontam que mais de dois terços dos americanos apoiam a proposta de Obama, vários parlamentares republicanos indicaram que apoiariam a medida se ela for à votação. A manobra de Obama parece contar com esta janela de oportunidade, especialmente na Câmara, de maioria republicana. Lei semelhante já foi aprovada no Senado, de maioria democrata.
Participaram da reunião os líderes republicanos na Câmara, John Boehner, e no Senado, Mitch McConnell, e suas contrapartes democratas, Nancy Pelosi e Harry Reid, respectivamente, além do secretário do Tesouro, Timothy Geithner. Boehner manteve a posição de que cabe ao Senado elaborar um novo plano, que seria apreciado pela Câmara, que ele preside, domingo à noite, para quando sessão extraordinária foi convocada.
Reid e McConnell teriam começado nesta sexta mesmo as negociações. Nos bastidores, esse plano incluiria um teto maior para extensão das desonerações — de US$ 400 mil — e o congelamento das alíquotas do imposto sobre propriedades de alto valor (até US$ 5 milhões). Essas medidas teriam chances de ganhar apoio dos republicanos, especialmente na Câmara, onde têm matiz mais conservador.
— Faremos o melhor que pudermos — afirmou McConnell em plenário, após a reunião. — Estou esperançoso e otimista.
Ainda assim um acordo continua distante, na avaliação de observadores e auxiliares das partes que negociam. Republicanos resistem a conceder aumento de impostos para os mais ricos, sem uma contrapartida em corte de gastos, o que seria entendido como ampla derrota para Obama. Democratas também resistem a um teto maior para prorrogação de imposto mais baixo e acreditam que terão mais ganhos políticos se puderem culpar o atual Congresso e negociar com o próximo, que toma posse dia 3.
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